Por Igor Rocha*
Abril de 2022: dois anos após o último carnaval carioca, a Marquês de Sapucaí esteve recheada de ancestralidade, de africanidade, de “macumba”. É explícito que não vou entrar na discussão do que seja macumba no imaginário popular, mas a verdade é que Exu tomou conta da avenida nos dois dias de carnaval. Quando falo Exu, são todas as entidades de luz (da Umbanda ou Candomblé) que participaram dos desfiles do grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro neste ano de 2022.
São séculos de preconceito, racismo, intolerância religiosa e discriminação onde quer que os representantes das religiões de matrizes africanas passem.
Carlinhos Brown, mais uma vez assertivo, disse, após a passagem da Mocidade Independente de Padre Miguel, que os “Orixás escolheram o Xirê para vir pra avenida. Por isso, todos as escolas se manifestaram através do seu pavilhão, através dos seus terreiros e transforma o futuro”. Ou seja, o melhor momento para (re)aparecer na sociedade.
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Dos 12 enredos das escolas de samba que desfilaram nos dias 22 e 23 de abril, pelo menos 8 delas trataram de resistência racial e religiosa. Como foi o caso da Portela, que completa 100 anos em 2023, e que referenciou o Baobá, árvore sagrada de origem africana; Acadêmicos do Grande Rio, que exaltou a presença de Exu; a Acadêmicos do Salgueiro trouxe a importância da resistência negra para ir adiante; a Mocidade Independente trouxe uma exaltação a Oxossi, o Orixá regente da Escola e padroeiro do Rio de Janeiro, além da Estação Primeira de Mangueira que contou a história de três baluartes (negros) da Escola: Cartola, Jamelão e Delegado.
Provavelmente, os ditos conservadores, defensores do cristianismo, da família e dos “bons costumes” estão praguejando o carnaval, uma festa pagã e que eles nem deveriam reverenciar. O carnaval é uma festa do povo e não tem como falar em povo brasileiro sem falar da macumba, do Axé, da Umbanda e do Candomblé. Esses defensores das pessoas de “bem” ainda acreditam que Exu é uma espécie de demônio, como os que eles mesmos idolatram, mas para todos nós que somos do Axé, sabemos que Exu não é demônio e os demônios estão em todos os lugares, menos na energia de Exu.
Laroyê!
*Igor Rocha é jornalista e editor do Notícia Preta.
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