Ver pessoas evitado cumprimentos, afastando os filhos ou mesmo saindo da piscina são experiências comuns para quem convive com vitiligo, uma doença autoimune que ataca a melanina, proteína presente no corpo que dá coloração, que faz com que a pessoa fique parcialmente ou totalmente branca. As ações acima descritas acontecem porque ainda acredita-se que ela é contagiosa, mas é importante ressaltar que ela não é!
“Na maioria dos casos, as primeiras manchas aparecem na infância, mas não é incomum que a doença se manifeste na fase adulta. Em muitos casos, o “gatilho” para o vitiligo aparecer é emocional: quando alguém perde um parente, se a pessoa está vivendo um momento de muito estresse ou de sofrimento, por exemplo. Esse quadro emocional instável propicia, inclusive, para que as manchas cresçam de maneira mais acelerada”, explica a dermatologista Daniela Antelo.
O reconhecimento da necessidade de um cuidado amplo com a doença fez com que a especialista montasse o Centro de tratamento do Vitiligo, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, que, além de dermatologista, conta também com um clínico geral e um psicólogo.
“O vitiligo é resultado da influência genética, imunológica e do meio. Então, é possível cuidar com remédios via oral como corticoides e imunomodeladores; na parte tópica, há produtos que receitamos que estimulam a pigmentação; e a fototerapia, que funciona como um bronzeamento, mas sem prejudicar a pele. Há alguns casos que podem ser tratados com cirurgia”, explica Daniela.
Não existe uma pesquisa oficial no Brasil, mas sabe-se que a incidência de vitiligo na população mundial varia de 1% a 2%, sendo que a proporção da doença entre negros e brancos é igual. Entretanto, por ter a pele escura, o negro sofre mais por causa do contraste alto. Sem contar que abre uma possibilidade de crise de identidade.
“A autoimagem é uma construção que vai mudando naturalmente, gradualmente e é comum a todos. Quando uma pessoa tem vitiligo, a mudança de imagem acontece de maneira muito rápida e não é comum a todo mundo. Tem um impacto grande, por causa do desvio da autoimagem. Pode causar fobia social, depressão, aumenta a inibição. Há uma tendência a se afastar das relações que têm no mundo. A gente tenta fazer a pessoa lidar com a mancha de uma maneira melhor, porque às vezes a própria família não sabe agir”, explica o psicólogo Leonardo Alves.
O fato de famosos como a modelo Winnie Harlow e o rapper Rappin Hood assumirem a doença é interessante por chamar atenção para o debate, mas é preciso ficar atento.
“A realidade das mídias sociais não é a do dia a dia. Acho maravilhoso a Winnie Harlow estimular a aceitação, para não ter a necessidade de seguir um padrão de beleza. Por esse ponto de vista, acho incrível. Para ela chegar ali, mostra que ela se entendeu. Por outro lado, isso não tira a legitimidade da pessoa que tem uma mancha e queira tratar e esconder com maquiagem”, avalia Daniela Antelo.
A dermatologista também reforça: “É importante escutar o paciente para saber o que ele pretende, o que ele almeja e o quê o incomoda. Por isso a importância de um atendimento multidisciplinar, para ajudar a ter mais qualidade de vida”.