O recente episódio de racismo na escola Escola Dinâmica do Ensino Moderno (Edem), no Rio de Janeiro, está longe de ser um caso isolado. Crianças negras sofrem diariamente com o preconceito em escolas públicas e particulares. Seja por apelidos maldosos passando por comentários sobre a cor de pele ou o cabelo crespo. O racismo cria marcas psicológicas eternas naqueles que estão começando a vida.
Por este motivo, pais e professores devem ficar atentos, principalmente com mudanças de comportamento do pequeno, após uma situação de violência de cunho racista sofrida. De acordo com a mestre em psicologia Amanda Duarte Moura, a alteração pode vir em forma de agressividade – como modo de se proteger de futuras agressões, ou um retraimento em sua sociabilidade – passando a ficar mais isolada/quieta. Perda de vontade de frequentar a escola e baixo autoestima também podem ocorrer.
“Sofrer uma violência de cunho racista afeta a vida das pessoas em qualquer fase de desenvolvimento, mas acredito que, tendo a criança capacidade limitada de significar o que ocorreu, é preciso uma atenção dos responsáveis legais e de membros da comunidade escolar para encontrarem formas de lidar com o ocorrido”, afirma ela.
A escola não deve se ausentar do debate, defende a psicóloga. É lá que a criança passa boa parte do dia e é um espaço de formação. Para a psicóloga Suelen da Silva Sampaio, especializanda em psicopedagogia pela UERJ, após um episódio de racismo é necessário estabelecer um trabalho conjunto com os pais/ cuidadores, alunos e comunidade educacional (interna e externa).
“A escola deve tratar de acordo com a legislação em vigor e de modo que os trabalhos realizados sejam contínuos e legítimos, validando a importância de se dialogar sobre o tema, informando e capacitando os profissionais, pais e comunidade. Todos somos responsáveis pela prevenção e erradicação do racismo, e isso não deve ser deliberado pelo nosso tom de pele”, defende ela, lembrando que a Lei 10.639, aprovada em 2003, determina o ensino obrigatório da cultura e história afrobrasileira na Educação, seja ela pública ou privada, também para fins de prevenção e erradicação do racismo.
É importante que sejam realizadas medidas para que esta criança se mantenha nesta escola de forma plena para o seu bem estar físico, mental e emocional. Um limite importante é averiguar se a escola está tomando as devidas providências e acolhendo esta criança em sua plenitude, ou nutrindo o racismo, lembra ela.
Vale trocar de escola?
A filha do contador A.M estava em seu primeiro ano na escola quando sofreu racismo por parte das colegas. Com apenas seis anos.
“Falavam do cabelo, diziam que era duro, um Bombril. A escola era pública e não consegui um retorno da direção para tratar isso. Tirei do colégio logo que terminou o ano”, relata.
Na opinião de Suellen, vale sim trocar de escola, mas não no primeiro momento. Isto porque, salienta, infelizmente os negros estão suscetíveis a sofrer racismo em muitos espaços. Ou seja, mudar de colégio não vai garantir que ela sofre preconceito em outro lugar.
“E para a nossa saúde é necessário entendermos como lidar com o racismo e com os racistas desde muito cedo. O que não quer dizer que devemos aceitar, mas de sabermos que é uma realidade e que estamos inseridos nela. É cruel? Sim, mas um mal necessário”.
Não há uma idade ideal para começar a tocar no assunto, diz a psicóloga. De acordo com a faixa etária e entendimento, uma boa dica é partir do que a criança traz e verificar até onde ela sabe sobre o que está falando.
“Tomando sempre o cuidado para não julgar o que para a criança está trazendo de informação e com isso reprimir em vez de estabelecer um espaço de diálogo e confiança que são essenciais em todas as fases da vida e relações”.
Cuide da autoestima
Uma forma de combate ao racismo é cuidar da autoestima da criança negra. Para Amanda, um modo é inserir o pequeno em espaços onde ela se sinta vista/representada. Oferecer oportunidades para que se veja- e veja pessoas como ela em espaços culturais, teatrais, na música, nos esportes. Abastecer a criança de representatividade, apresentando exemplo de pessoas negras, profissionais negros nas mais variadas áreas, historia com personagens negras.
Este cuidado precisa ser colocado como prioridades para os pais pois uma criança que sofreu racismo pode levar este episódio para a idade adulta, afirma Amanda. E ela percebe durante os atendimentos.
“Algumas pessoas negras, somente agora, em fase adulta, conseguem falar sobre alguns sofrimentos oriundos de situações de racismo sofrido na infância e adolescência. Esses sofrimentos podem chegar na fase adulta ‘mascarados’ em forma de depressão, transtorno de ansiedade, fobia social, entre outros transtornos”, afirma.
Eu adoro minha cor não tenho vetgverg de ser negro.