O mesmo estudo aponta que apenas 28% admitem preconceito contra negros
Uma pesquisa publicada pelo Data Poder 360, mostra que 76% dos brasileiros dizem haver preconceito no Brasil por causa da cor da pele. O levantamento revelou ainda que 11% dos brasileiros foram ou pretendiam ir às manifestações contra o racismo, realizadas após o assassinato do norte americano George Floyd, em Minneapolis, Estados Unidos.
Os protestos reacenderam os debates sobre desigualdade racial no Brasil e a necessidade urgente de revisão histórica brasileira, colocando o negro como protagonista da sua própria história.
Comparativo de 25 anos
Em 1995, o Instituto DataFolha também fez um levantamento, questionando se as pessoas sentiam preconceito no Brasil pela cor da pele. Quando são analisados, percebe-se uma queda das pessoas que acreditam existir racismo no país. Em 1995, eram 89% das pessoas que admitiam. Atualmente, são 76%. Por outro lado, o percentual de pessoas que admitem ser racista, cresceu de 11% para 28%, segundo o comparativo das duas pesquisas.
O papel dos movimentos negros
Para o professor de jornalismo e coordenador-executivo do Núcleo Negro para a Pesquisa e Extensão da Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), Juarez Xavier, houve uma mudança significativa no contexto da luta contra a desigualdade e a questão racial. Segundo ele, em 1995, o Brasil vinha de uma trajetória de abertura do espaço democrático, celebrava o tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares. No entanto, o discurso de extrema direita, ainda segundo Juarez, vem ganhando força, tentando minimizar o debate sobre a questão étnico-racial e, parte da juventude, que não viveu o período da ascensão da democracia, pode estar reverberando as vozes antidemocráticas. “A impressão que se tem é que o debate estimulado pela extrema-direita criou esse mecanismo”, disse o professor sobre a redução do percentual dos que acreditam existir racismo e o aumento do percentual dos que hoje se afirmam racistas.
“Pela primeira vez, nós temos à frente da Presidência da República um presidente que faz depoimentos misóginos, racistas, preconceituosos, de violência. Isso nunca aconteceu naquele período democrático. A impressão que se tem é que esse discurso, o chamado ‘discurso do ódio’, da intolerância, da ausência de debate público e do respeito à opinião, pode ter influenciado um grupo de pessoas que tem se mostrado fiel a esse ideário”, alertou.
A pesquisa do Data Poder 360, divisão de estudos estatísticos do Poder 360, foi realizada de 22 a 24 de junho com 2.500 pessoas em 549 municípios, nas 27 unidades da Federação. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. Saiba mais sobre a metodologia lendo este texto.