A Ditadura era racista

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Artigo do historiador Jorge Santana

Descomemoramos mais um aniversário de uma página infeliz da nossa história. O golpe civil-militar de 1964.  Infelizmente essa data é ainda comemorada pelo alto escalão do ministério da defesa, pelo vice-presidente , pelo déspota que veste a faixa presidencial e  por muitos saudosistas de extrema-direita. Insistem na tese de aquele movimento ilegal o qual enterrou a democracia por 21 com pá cal  produziu  alguma coisa de positivo, ledo engano.

Existe um senso comum o qual compreende a perseguição estatal brasileira no período de 1964 até 1985 só foi contra os opositores, críticos, comunistas, artistas, e setores da classe média.  A perseguição e repressão conduzida pelos órgãos como DOPS, SNI e Doi-Codi  também atingiu o movimento negro como as manifestações culturais afro-brasileiras. E não podemos deixar de lembrar a proibição de se falar em racismo nos anos de chumbo, conjuntamente com o culto ao mito das três raças em harmonia.

Como  descreve  muito bem , o historiador Diego Dezidério o Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento  teve sua derrocada na ditadura. Um dos mais potentes de instrumento de combate ao racismo o TEN foi desmantelado. Os militantes foram  perseguidos e sofriam acusação de criarem problemas para nação. Para os donos do poder, falar em racismo era criar um problema que nunca existiu nessas terras.  O TEN acabou devido a repressão estatal e Abdias foi para o exílio.

O movimento Black Power que balançou os jovens  negros nos anos 70, não passou ileso a repressão verde oliva. A Comissão da Verdade do Rio de Janeiro encontrou e analisou documentos os quais apontam para o medo da organização nesses eventos culturais. Organizadores e responsáveis pelas festas foram investigados, fichados e interrogados. Os meganhas da repressão consideravam  que aquelas reuniões musicais buscavam promover o preconceito racial e o desentendimento a comunidade brasileira.

O samba também  foi vítima da repressão, não o samba como um todo. E sim, o samba o qual denunciava o racismo e a “questão negra” no Brasil. Um samba em homenagem ao patrono do choro, Mestre Pixinguinha foi censurado. Os versos exaltavam Pixinguinha, mas a justificativa dos censores era que: “ o conteúdo lembra a situação social do negro em nossa história: racismo”.   Na Bahia, na Roma negra,  o Movimento Negro de Salvador também foi monitorado e  vigiado pelos  órgãos de repressão.

Nessa data, precisamos pensar como 21  anos sem falar de racismo foram fundamentais para ainda hoje sermos uma sociedade racista. E ao mesmo tempo refletir sobre quais foram os nossos que morreram, foram presos ou perseguidos por denunciarem o racismo vigente no Brasil. Revisitar a memória destes que não recuaram diante do risco a vida por lutar contra o absurdo, é apontar para o legado dessas mulheres e desses homens.

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