76,2% das mortes violentas intencionais foram de pessoas negras, segundo Anuário de Segurança Pública

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O Brasil apresentou um aumento no número de mortes violentas de quase 5%, registradas em 2020. Os números divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (15), compõem as chamadas mortes violentas intencionais, ou seja, os homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e as mortes cometidas pela polícia. De acordo com o Anuário, 76,2% dessas vítimas de mortes violentas intencionais eram negras, 54,3% eram jovens e 91,3% homens.

Beto Freitas foi uma das vítimas de violência contra pessoas negras em 2020 – Foto: Arquivo Pessoal

Os números ainda mostram que os crimes aconteceram, em sua grande maioria, à noite e aos finais de semana. Em 78% dos casos, foi usada uma arma de fogo. O Anuário revela também que 6.416 mortes aconteceram em intervenções policiais, um aumento de 0.3%, e que 50 cidades concentram 55,8% de toda a letalidade da polícia. O perfil das vítimas: 78,9% negros e 76,2% pessoas entre 12 e 29 anos.

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Há uma elevação das mortes praticadas por policiais, que só não cresceram mais porque o Rio de Janeiro teve 600 mortes a menos com a ADPF 635, das favelas (que suspendeu as operações em comunidades, a não ser em casos excepcionais). Além da letalidade policial, é preciso enxergar o aumento dos homicídios em geral”, diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao G1.

Ainda de acordo com o Anuário, houve um aumento no número de mortes violenta intencionais em todos os estados no Nordeste. O Ceará concentrou a taxa de 45,2%. Segundo Samira, há dois fatores que pesam nesse ano de pandemia. “O primeiro é o das dinâmicas relativas aos grupos criminosos organizados. No Ceará, com crescimento de mais de 70%, por exemplo, tem o motim das polícias logo no início do ano, que desarranja a política de segurança local, mas isso sozinho não explica. Tem uma disputa do crime organizado muito intensa que reverbera nas ruas com vingança, assassinatos. No Piauí também há um desarranjo do crime organizado”, analisa.

Aumento no número de armas de fogo registradas na mão de civis

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram registradas 1.279.491 armas de fogo ativas no SINARM (PF), um aumento de 100,6% desde 2017. Assim como, um crescimento de 108,4% na autorização de importação de armas longas em um ano. “Uma maior disponibilidade de armas de fogo pode impactar rapidamente nessa violência interpessoal”, afirma Samira ao G1.

Imagem: Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Além disso, o número de pessoas físicas que pediram registros para atuarem como caçadores, atiradores desportivos e colecionadores (os chamados CACs) ao Exército Brasileiro aumentou 43,3% em um ano: de 200,1 mil pessoas, em 2019, para 286,9 mil, em 2020. Houve também um aumento do arsenal. Decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro e a formalização da Polícia Federal, em agosto de 2020, para a compra de quatro armas de fogo por pessoa, fizeram com que mais armas entrassem em circulação, sendo registradas 186.071 armas novas por civis, um aumento de 97,1%.

O aumento da circulação de armas está relacionado com os decretos, que não só facilitaram o porte, como também os fragilizaram mecanismos de controle. “Com os decretos emitidos neste ano, um aumento ainda maior deverá ser observado nos próximos anos”, disse Isabel Figueiredo, advogada, mestre em direito constitucional pela PUC e integrante do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao G1.

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