Street Dance melhora a autoestima da população negra, afirma psicóloga

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O street dance ou dança de rua é originário de Nova Iorque, no final da década de 60, quando as gangues disputavam espaços através da dança.

O Street Dance, Dança de Rua em tradução livre, não é apenas um estilo de dança, é uma manifestação cultural e artística que está diretamente associada à cultura negra. De acordo com a psicóloga Laurence Maria dos Santos, especialista na abordagem cognitivo comportamental, a dança afro ajuda na construção da auto estima por conta do resgate identitário e conexão às raízes. 

O Street Dance nasceu nos Estados Unidos na década de 1960 – Foto: Reprodução

Ainda segundo a psicóloga, a autoestima é uma auto avaliação subjetiva, é a percepção que temos sobre nós mesmos e sobre o mundo. Em entrevista ao Notícia Preta, Laurence, explicou que, para uma boa auto estima, não é necessário apenas estar bem com sua aparência, mas também, com suas crenças e valores. Indígenas e negros, por conta da hierarquia social histórica entre os colonizadores e os escravizados, levou a uma fragilidade nessa avaliação. “A autoestima da população negra é constantemente atingida, nosso cabelo é atacado, nosso tom de pele é atacado e a falta de referência em todos os meios vai minando a nossa autoestima. Quando não nos vemos representados na mídia, principalmente para as crianças, começamos a achar que temos alguma coisa errada”, analisa.

A psicóloga Laurence Maria dos Santos ressalta a importância da dança para as pessoas negras – Foto: Arquivo Pessoal

Vinicius Santos (27) é professor de Hip Hop na Petite Danse e Soleil D’or escola de dança, teve seu primeiro contato com a dança em 2010 e em 2012 começou a dar aula em uma ONG perto de casa. Segundo ele, a sua relação interna melhorou muito, uma vez que, dançando ou não, a sua autoestima era muito baixa. “Eu sempre fui o garotinho apaixonado pelas meninas da minha escola, o fofo e até mesmo o garotinho legal, mas que nunca se colocava de uma maneira que as pessoas entendessem que estava ali. Eu sempre deixei que as pessoas falassem por mim porque eu não tinha autoconfiança e desde muito novo eu sempre fui gago. A dança me fez aprender a me vestir melhor e entender que vão ter pessoas que vão me achar bonito. A dança mudou bastante isso, de me fazer entender que sou bonito”, disse Vinicius.

Já na outra ponta, Ronald Rodrigues (29), professor de Hip Hop, dá 11 aulas por semana na Jazz Carlota Portella e Recicle Dance e começou a dançar profissionalmente em 2010, fala que nunca teve a autoestima baixa. “O fato de entrar em uma escola com a classe social bem mais alta que a minha, querendo ou não, ser negro me fez sentir a diferença em alguns lugares, não são todos, mas você sente. Não ‘tô’ falando da escola onde eu trabalho, é em qualquer lugar, em eventos, na vida. A dança me trouxe uma autoestima que eu não sei se eu teria trabalhando em outra coisa”, afirma.

Vinicius e Ronald são professores de Street – Foto: Arquivo Pessoal

Em 2016, Carla Beatriz do Nascimento, publicou um estudo explicando que a dança afro vem para resgatar a identidade da comunidade negra, pois é um momento de liberdade, de conseguir voltar às suas origens e entrar em contato com tudo que foi tirado dessa população por muito tempo.

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Origem do Street Dance

O Street Dance é um dos elementos da cultura Hip Hop, um movimento cultural criado no final da década de 1960 pelo DJ Afrika Bambaataa. Teve origem em Nova Iorque, no bairro do Bronx, motivado pelas manifestações das favelas de Kingston, na Jamaica, e tinha o objetivo de combater os problemas da periferia. “Meu avô nunca me deixou parado no morro. Sempre me colocou para fazer alguma atividade e eu topava tudo, esporte, teatro, o que tinha para  fazer eu fazia. Porém, a dança abriu portas para mim. Com 16 anos uma amiga me deu a oportunidade de dançar no Aterro do Flamengo, depois de um tempo eu conheci o diretor do grupo que me mostrou que era possível viver de dança”, disse Ronald.

A dança de rua, originária nos Estados Unidos, consistia em batalhas não violentas entre as gangues que anteriormente brigavam na disputa de territórios. Através do Street, passaram a resolver suas diferenças com disputas dançantes e, devido a isso, a violência entre as gangues foi diminuindo. 

Atualmente, a dança está presente na cultura mundial, com franquias de filmes populares como Ela Dança, Eu Danço e grandes competições como a Juste Debout e a Red Bull Bc One, as duas maiores competições de Street Dance. Em 2016, a disputa da Red Bull teve um brasileiro como campeão, Fabiano Carvalho, conhecido como Neguin.

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