Passista que teve o braço amputado e o útero retirado: “Destruíram meus sonhos”

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A trancista e passista Alessandra dos Santos Silva (37) esperou por mais de um ano para realizar uma cirurgia para retirar alguns miomas do útero, mas o procedimento não saiu como o esperado. Realizada no Hospital da Mulher Heloneida Studart, no Rio de Janeiro, em 3 de fevereiro, a cirurgia resultou em uma hemorragia que obrigou os médicos a retirarem o útero da paciente sem o seu consentimento ou da família. “Foi só o começo da monstruosidade que fizeram comigo”, disse Alessandra à Marie Claire.

Com a família sem notícias sobre o estado de saúde de Alessandra, eles encontraram a trancista em coma, com braços e pernas enfaixados e com começo de necrose nos dedos da mão esquerda. “Os médicos esconderam da minha família que meu braço estava necrosado e precisaria ser amputado. Apenas falaram que tive um pequeno probleminha na cirurgia. Isso não é nada pequeno”, acrescenta ela.

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Alessandra dos Santos Silva afirma ter perdido o braço após uma cirurgia para a retirada de um mioma no útero. Foto: Reprodução/TV Globo

Alessandra foi transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, em Botafogo, onde os médicos tentaram drenar seu braço, mas não conseguiram. A opção era amputar ou arriscar a morte. A família autorizou a amputação e Alessandra passou meses no hospital, entre uma cirurgia e outra, e teve que reaprender a viver sem o braço esquerdo. “Foi um choque, ainda está sendo, entender tudo isso. Eu entrei no hospital e minha vida mudou depois disso”, explica.

Alessandra trabalhava como trancista há mais de 20 anos e agora se viu impossibilitada de exercer sua profissão. Seus amigos fizeram uma vaquinha online para ajudá-la financeiramente, já que ela não pode mais trabalhar. “Estamos passando algumas dificuldades”, lamenta. Além disso, ela conta que a sutura feita na barriga ainda não cicatrizou.

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Mas a dor física não é nada comparada ao sofrimento emocional que ela está passando por ter tido o útero retirado. Noiva há 11 anos, Alessandra tinha o sonho de engravidar, mas agora isso não será mais possível. “Eles destruíram todos os meus sonhos, meu sonho de gerar meu filho foi apagado, não posso mais exercer minha profissão e preciso de ajuda para andar. É um pesadelo isso que estou vivendo”, lamenta.

Decidida a buscar justiça, Alessandra irá processar o Hospital da Mulher Heloneida Studart pelo que aconteceu. “Eu não posso conseguir minha vida de volta, mas eu vou lutar por justiça. Não quero que mais ninguém passe por isso. Por isso decidi falar sobre tudo que enfrentei”, finaliza.

Jerson Pita

Jerson Pita

Jornalista, marqueteiro, pesquisador e periférico. Cria de Duque de Caxias, escreve sobre entretenimento, sociedade e esportes. No mestrado, pesquisa a autoridade jornalística e a migração da mídia tradicional para o Youtube.

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