Vozes, corpos e multiplicidade de vivências de pessoas trans são destaques no filme “Pajubá”, que é dirigido por Gautier Lee, cineasta negra, angrense, não-binária; e tem roteiro de Hela Santana, escritora negra, trans e baiana, radicada em São Paulo.
“Poder fazer um filme sobre vivência trans que não foca em sofrimento e violência com liberdade artística é algo que parecia distante para não dizer impossível. É a possibilidade de poder celebrar quem somos ao mesmo tempo em que assumimos o controle da narrativa sobre a nossa história e nossa cultura”, afirma a cineasta Gautier Lee.
A obra constrói um panorama histórico, artístico e educacional sobre a cultura e vida trans brasileiras, mesclando o documentário à ficção, ao ativismo, à performance e à música. A ideia de produzir “Pajubá” surgiu em abril de 2021, no auge da pandemia.
A roteirista Hela Santana estava passando por um momento difícil em sua vida, quando assistiu ao programa Falas da Terra da Rede Globo. “Era ponto alto da pandemia e eu lembro de estar desempregada, com fome, e quase literalmente desistindo do sonho de trabalhar com audiovisual. Lembro de assistir ao especial e na mesma hora a ficha cair na minha cabeça: é isso!”, comenta.
“Aquela produção me mostrou que era possível de forma prática, honesta e bonita falar dos lados do Brasil que o Brasil mata mas finge que não vê. No mesmo dia rascunhei uma versão prévia do argumento, mandei pra Gautier e falei: bora? E agora estamos aqui”, completa.
Na lista de histórias que as autoras almejam contar estão nomes de pessoas trans de diversas áreas, entre elas: Keila Simpson, ativista social e líder da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA); Érika Hilton, vereadora de São Paulo, mulher mais votada das eleições de 2020 e deputada federal, eleita em 2022.
Além delas, contam suas histórias Daniel Veiga, ator e dramaturgo, primeiro homem trans negro a ganhar o prêmio de melhor ator no Festival de Gramado; Caê Vasconcelos, jornalista e escritor, repórter especializado em direitos humanos e na editora LGBT+; e Fefa Lins, artista visual, que a partir de seus quadros, fala sobre como a arte tem poder de questionar a sociedade e impulsionar mudanças.
“Todas as pessoas escolhidas para serem entrevistadas são pessoas trans de destaque nas mais diversas áreas como Jornalismo, Política, Música, Games, Ativismo, Atuação, Influência Digital, entre outras. Foram escolhidas pessoas de regiões diferentes em buscar de abranger toda a diversidade dentro das vivências trans”, explica Gautier Lee.
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Após a escolha dos nomes que vão participar do filme, filtrar as histórias tem sido o grande desafio até aqui. “É impossível apenas uma produção dar conta da infinita riqueza e multiplicidade que é ser trans em terras brasileiras, mas quero tentar dar uma amostra bonita de como a gente é bonito”, Hela Santana.
Ainda sem data de exibição, “Pajubá” possui uma equipe majoritariamente trans e negra. Para Hela, o filme é muito mais que uma obra cinematográfica. “Pajubá significa a esperança de narrativas mais acolhedoras sobre nós. É uma celebração”, conclui.