Pesquisa mostra que 75% dos terreiros de religião de matriz africana no Rio já foram alvo de violência

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Rio de Janeiro (RJ), 30/09/2023- foto feita em 24/08/2023 - Religiosos e integrantes do movimento negro protestam contra a violência policial em caminhada na região da Candelária, centro da cidade. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Relatório demonstra e debate o racismo religioso no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense

Pesquisa realizada com terreiros de religião de matriz africana da Baixada Fluminense e da Zona Oeste do Rio de janeiro, mostra que 75% deles já foram alvo de alguma forma de violência. O estudo disponibilizado nesta segunda-feira (02), foi feito pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial) em parceria com o Centro Cultural de Tradições Afro-brasileiras Yle Asé Egi Omim.

O relatório demonstra que nos 12 terreiros que participaram do estudo, em média, as lideranças religiosas são pessoas negras, e 50% delas são mulheres negras. A pesquisa também mostrou que as lideranças possuem entre 35 à 55 anos de idade, e a maior parte dos terreiros são de Nação Ketu e possuem em média 11 anos de fundação em seus territórios.

De acordo com o documento, chamado “Egbé”, que é uma palavra do idioma Iorubá que significa sociedade ou comunidade, a pesquisa foi realizada nestas regiões, por registrarem um número elevado de ocorrências do tipo.

O relatório explica que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), registrou até 2019, 200 casas de axé foram alvo de agressões, considerando também os casos registrados na Zona Norte. A pesquisa revela que segurança pública é um tema central de discussão dos frequentadores destes espaços.

Religiosos e integrantes do movimento negro protestam contra a violência policial em caminhada na região da Candelária, centro da cidade em protesto realizado no dia 24/08/2023. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Entre as ocorrência registradas há ameaças, injúrias raciais, agressões físicas, invasões de propriedade e expulsão do território por grupos armados locais. O documento exemplific alguns casos de agressão, e um deles é casa Xwe Nokun Ayono Avimaje, localizada no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que relatou já ter sidoinvadida e depredada três vezes em 10 anos.

Entre os casos, há relatos de pichações no muro dos terreiros e horários restringindo o tempo dos rituais, para evitar ataques.

A pesquisa procura debater e buscar soluções com as comunidades religiosas, a partir das experiências vividas por elas, de segurança pública. De acordo com o relatório, há descrédito da comunidade religiosa com as instituições policiais em relação a segurança e proteção.

“Há um lema da polícia militar que diz ‘servir e proteger’, uma das respostas dadas pela Iyakekerê (mãe pequena) de uma das casas foi: Servir a quem? Proteger o quê?”, diz trecho do relatório.

A pesquisa aponta que as denúncias acarretam em desapontamento, pois de acordo com eles, as autoridades policiais classificam os casos como briga de vizinhos ou problemas pessoais, afastando a análise dos casos como crime de ódio.

Um dos temas abordados na pesquisa é o debate sobre racismo religioso e intolerância religiosa. Parte do grupo entende que os casos de violência contra religiões de matriz africana precisam ser enquadrados como racismo religioso.

“Eu acredito que o termo intolerância religiosa não dá conta da dimensão real do problema. Nós
precisamos falar de racismo religioso, precisamos falar de racismo! Se as contradições e desigualdades em que vivemos hoje são heranças coloniais definidoras das desigualdades de raça, classe e gênero, então as violências sofridas pelas religiões também estão relacionadas a estas questões. A colonialidade que persiste entre nós ainda hoje se organiza em torno do sistema capitalista, do patriarcalismo e do racismo”
, afirma Iyá Wanda Araújo, em trecho da pesquisa.

Leia mais: Conselho Nacional de Saúde reconhece espaços religiosos de matriz africana como locais de cura

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