Policiais militares da Bahia foram flagrados executando com vários tiros um homem rendido, com as mãos para cima, no Calafate, em Salvador. O caso aconteceu na última quarta-feira (20). Vídeos feitos por moradores mostram o momento em que os PMs abordam a vítima em um carro branco e ele deixa o veículo mostrando estar desarmado e sem apresentar nenhuma reação.
No vídeo, é possível ver que a vítima, que não teve a identidade revelada, estava de costas, quando recebeu um tiro na altura da cabeça. O homem caiu no chão e, em seguida, recebeu outros disparos dos militares.
A Polícia Militar, por sua vez, desmenti o que as imagens mostram e afirma que o homem estava com vários comparsas e entrou em confronto com os policiais.
Em nota, a PM informou que os policiais faziam rondas, quando receberam informações de um grupo armado roubando veículos na região do Calafate. Disse ainda que o carro trafegava em alta velocidade e que o motorista desobedeceu a ordem de parada e atirou contra os militares.
Ainda na nota, a polícia disse que uma das viaturas foi atingida. Destacou que houve confronto e que um dos suspeitos tentou fugir, mas caiu no chão a alguns metros da viatura. Informou também que outro homem – o que aparece no vídeo – também tentou fuga ao sair pela janela do carro. A corporação informou que um grupo armado “que se encontrava no morro próximo ao local da ocorrência, passou a efetuar disparos contra os policiais, onde foi necessário dispersar e revidar as agressões” e que, neste momento, a vítima sacou uma arma.
No entanto, apesar do que disse os PMs, os vídeos gravados pelos moradores não mostram ninguém armado e nem é possível ouvir os supostos tiros dados contra os policiais.
Já passou da hora de o Congresso Nacional reagir com rigor contra a escalada da violência policial no país.
São cada vez mais frequentes os casos de ações policiais truculentas, abusivas e por vezes ilegítimas que vemos publicados diariamente nos jornais, ficando a impressão de que vivemos em um país em que direitos e garantias constitucionais já não vigem mais.
Pessoas são espancadas violentamente nas ruas mesmo depois de algemadas pela polícia, imobilizadas e sem esboçarem qualquer reação.
Pessoas consideradas suspeitas sem qualquer prova contra elas, na maioria das vezes em razão de sua cor ou condição social, são sumariamente executadas em praça pública pela polícia, sem direito à defesa ou a um julgamento justo embasado no devido processo legal.
Jovens negros, pobres e moradores de favelas são com frequência o público alvo dessas abordagens policiais impróprias, arbitrárias e inaptas, que apesar de nos causar revolta e comoção, tornaram-se frequentes nos nosso dias, passando a fazer parte do cotidiano !!
Na cidade de São Paulo, por exemplo, jovens da periferia – marcados de forma generalizada com o estigma de “bandidos” pela polícia –, são abordados, agredidos e humilhados por policiais sem qualquer flagrante, sem qualquer razão, especialmente na zona sul e na zona norte, onde se concentra o maior número de favelas na capital paulista.
E nessas abordagens imoderadas e por vezes truculentas contra populações de comunidades, morros e favelas paulistas, alguns acabam mortos, e depois, com as investigações, descobre-se que a pessoa executada pela polícia não tinha praticado crime algum, e no final das contas, quase nada acontece com o policial transgressor, quando muito o agente é retirado das ruas e transferido para o COPOM. Um ou outro acaba preso, mas na maioria das vezes não são punidos ou a punição é mínima.
Dificilmente, você vê isso acontecer em bairros nobres como Itaim Bibi, Jardins e Morumbi. A violência policial, quando ocorre, é sempre dentro das comunidades ou nas imediações destas.
E nada tem sido feito pelos governo do Estado para conter a atuação arbitrária das forças policiais e pôr fim a essa verdadeira barbárie.
No caso em pauta, vê-se no vídeo claramente um homem já abatido, sem estampar qualquer reação, sendo desnecessariamente fuzilado com diversos tiros à queima-roupa por policiais que parecem totalmente descontroladados e desorientados.
É como se o Estado democrático de direito tivesse dado lugar a um Estado policial arbitrário.
É como se o Brasil tivesse se transformado numa terra sem lei, sem liberdade, sem justiça.