Uma das cidades mais pobre da RMBH, Ribeirão das Neves é uma das maiores concentrações de negros do Estado, segundo IBGE
Quatro coletivos da cidade de Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, comandados por mulheres negras, Agroecologia na Periferia, Etinerâncias, Cooperativa Eita e Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas se uniram para auxiliar mulheres para enfrentar a pandemia, protegendo das famílias mais vulneráveis e criaram o programa Ribeirão em Defesa da Vida – Neves sem Corona. O objetivo é apoiar comunidades e outros coletivos de Ribeirão das Neves que estão organizados na defesa de seus territórios neste momento de pandemia.
Segundo Tatiane Campos, professora e mobilizadora social, o trabalho dos coletivos é unir essas mulheres e criar alternativas de resistência nas comunidades. “Se o poder público não cria alternativas de dar uma vida digna a elas, vão se organizar e mostrar para esse poder público que as coisas podem acontecer”, afirmou a professora e completou. “Essas mulheres se auto organizam e cobram do poder público alternativas que contemplem as suas realidades. O projeto faz esse diálogo com a vida das pessoas que precisa e dão uma possibilidade dessas mulheres se verem como importante”, ressaltou.
Etapas e produção local
Na primeira etapa do projeto, ele já chegou a 135 famílias que são produtoras locais, trabalhadoras que dependiam das feiras presenciais para vender seus produtos e foram impactadas diretamente pelas medidas de isolamento social, assim como pequenos comerciantes que precisaram se reinventar para dar continuidade às vendas. Atentas a isso, na primeira etapa do projeto, as lideranças territoriais fizeram um mapeamento, possibilitando acessar uma rede de produtoras e comerciantes da região que historicamente colaboram com as ações comunitárias.
De acordo com Ana Azzevedo, fundadora da Casa dos Livros, dentro do processo, precisaram pensar em como auxiliar não só a população, mas o comércio local também. “Tínhamos que pensar nas pessoas que receberiam as cestas, mas fiquei pensando também nos pequenos comerciantes, como fariam para pagar o aluguel, a moça do caixa, o cara que embala as mercadorias e tal. Daí caiu a ficha que o ideal seria fazer a grana girar no território assim todos ganhariam”, reforçou.
Territórios
Para realizar a seleção dos locais que seriam contemplados com as ações, foram mapeadas 11 áreas e uma chamada pública de ações emergenciais foi aberta. Em apenas três dias, o edital recebeu 86 inscrições. Cada uma dessas áreas apresentou um grupo de autodefesa territorial, isto é, pessoas da comunidade que já estão agindo juntas para combater os efeitos da covid-19 nos seus territórios e doam seu tempo e disposição para construção coletiva. As demandas são diferentes em cada território e o edital permitiu que cada grupo definisse suas prioridades. O critério de seleção foi a capacidade que o território apresentou de se auto-organizar. Foram selecionados 11 territórios. Estes grupos são compostos majoritariamente por mulheres negras
Combate à violência doméstica
Segundo dados do Atlas da Violência, a taxa de feminicídio entre mulheres não negras teve um aumento de 4,5% entre os anos de 2007 e 2017. Já entre as mulheres negras, o acréscimo foi de 29,9%. Pensando nesses números e no aumento de violência doméstica durante o período da pandemia, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um dos grupos definiu como prioridade a produção e entrega de kits de autocuidado para o combate à violência contra a mulher. Cada kit é composto por sabonete de óleo e alecrim, shampoo, desodorante, óleo essencial e absorventes, além de um pano de prato com a frase “Mulheres são como as águas, crescem quando se encontram”, e um folder com informações sobre o tema.