Audiência histórica do STF discute operações nas favelas do Rio

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Policemen take position during an operation at Jacarezinho slum in Rio de Janeiro November 24, 2010. Authorities in Rio de Janeiro struggled to control a fourth day of violence apparently orchestrated by drug gang members who have attacked police stations and burned cars in the Brazilian city. The wave of violence began on Sunday with attacks on police stations and vehicles. Suspected drug gang members ordered people out of their cars on expressways and then set fire to the vehicles. REUTERS/Sergio Moraes (BRAZIL - Tags: CRIME LAW CIVIL UNREST)

A audiência visa discutir formas de redução da violência ocasionada pela intervenção policial nas favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Nos dias 16 e 19 de abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) realiza uma audiência pública histórica, que será transmitida ao vivo pela TV Justiça, pela Rádio Justiça e pelo canal do STF no YouTube, no horário de 9h às 12h30, prosseguindo à tarde, das 14h às 18h30. Na reunião, serão discutidas as normas da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, a ADPF das Favelas – uma ação contra o governo do Estado do Rio de Janeiro.

Foi ajuizada no final de 2019, mas apenas em junho de 2020 foi concedida uma medida cautelar, pelo ministro Edson Fachin, para a suspensão de operações em comunidades, sendo permitido apenas em casos absolutamente excepcionais. No entanto, somente em agosto de 2020 o STF determinou a suspensão de operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro durante toda a pandemia. A decisão veio após pressão das organizações, coletivos e movimentos, especialmente, devido à morte de João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, morto em casa durante ação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, RJ.

Entre outras reivindicações, a ADPF institui a proibição do uso de helicópteros blindados, de operações em perímetros escolares e hospitalares, e a utilização desses como base operacional das polícias civil e militar. Também é pauta, a preservação dos vestígios da cena de crime praticados por policiais, sendo evitadas as remoções indevidas de corpos, sob o pretexto de suposta prestação de socorro. É pontuado que se tenha investigações completas e ágeis, e que os órgãos de polícia técnico-científica do Estado devem documentar as provas periciais, laudos e exames de necropsia com o objetivo de assegurar a possibilidade de revisão independente. 

Audiência visa reduzir a intervenção policial e garantir o direito à vida

A pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que desde outubro de 2020 há uma violação sistemática da decisão do STF, o que aumentou a letalidade policial. O estudo revela que, de junho a setembro, o número de vítimas sofreu uma queda drástica. A média foi de 37,5 mortos em operações policiais, em 2020, a média mensal era de 90,1. Porém, de outubro até o fim de janeiro deste ano, a média mensal de mortes aumentou, foi de 107, acima das médias de 2020 e dos últimos 14 anos. 

O levantamento ainda ressalta que em um mês, de junho a julho de 2020, com a  decisão liminar do STF – que retirou 78% das operações policiais – foi reduzido em 70% o número de mortes e 50% o número de feridos em decorrência de ações e ou tiroteios. Além disso, a redução de operações policiais não demonstra aumento na criminalidade. Os pesquisadores pontuam uma redução de 48% nos crimes contra a vida e de 40% nos crimes contra o patrimônio no mesmo período. 

Média e percentual de redução do número de mortos decorrentes de operações policiais, de tiroteios com e sem presença de agentes de segurança e de mortes por intervenção de agentes do Estado (RMRJ, 2007-2020/ 2017-2019). Fonte: GENI/UFF, Fogo Cruzado – RJ, ISP – RJ.

Esse ano o projeto Drogas: Quanto Custa Proibir, coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), revelou o custo público destinado às instituições de justiça criminal. Um custo que também fomenta a violência sob o pretexto de realizar segurança pública. Só no RJ, a Polícia Militar detém o maior orçamento, um total de quase 5 milhões, desses mais de 350 mil só para a aplicação da Lei de Drogas. Entre os mortos pela polícia em 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 79% eram negros; a polícia matou mais de 6.300 pessoas no país, só em 2019.

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