Afroempreendedoras de Belém (PA) denunciam negligência de autoridades em caso de quilombo urbano invadido

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Foto: Mácio Ferreira / AG Belém

Após o segundo ataque em menos de três meses, integrantes do Movimento Negro e as empreendedoras do Coletivo Pretas Paridas Amazônicas, que lideram o Quilombo da República, um quilombo urbano e ponto de resistência cultural na Capital paraense, realizaram neste domingo (10) um ato público cobrando providências das autoridades.

No último dia 6 de julho, o quiosque, que pertence ao Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), foi invadido por vândalos, que levaram equipamentos e mercadorias do Coletivo e quebraram uma porta de vidro avaliada em R$ 7 mil.

Foto: Mácio Ferreira / AG Belém

Vanessa Mendonça, 28 anos, uma das integrantes do Coletivo e empreendedora da marca Fogoyó Moda Afroamazônica, explica que a negligência do Poder público com relação ao Espaço não vem de hoje.

“O Quilombo da República é um espaço de resistência negra num dos principais cartões postais de Belém, e isso incomoda. Somos fonte de renda para 18 mulheres, mães solo, avós, mulheres que vivem disso. Fomentamos a economia criativa local e o turismo. No entanto, nos sentimos vulneráveis há muito tempo. Nós abríamos todos os dias, mas ficamos cada vez mais amedrontadas com a falta de segurança e o abandono da Prefeitura. Além da insegurança, infraestrutura da praça neste lado em que ocupamos está precária, tudo quebrado, horrível”, denuncia Vanessa.

De acordo com pesquisas históricas, o local onde hoje está localizado o Quilombo, na Praça da República, foi no passado um cemitério onde os negros escravizados desvalidos eram enterrados no período da escravidão. Há cerca de 20 anos, integrantes do Cedenpa, que existe há 43 anos, ocuparam o espaço. “O movimento negro ressignificou esse lugar e criou o Quilombo da república, aqui é um lugar político de resistência. Hoje nós vendemos cerâmica, joias, artesanatos, mas também têm serviços como trancistas. Toda vez que realizamos um evento que têm notoriedade na cidade, eles logo vêm nos atacar”, conta. 

Foto: Mácio Ferreira / AG Belém

Vanessa explica que o primeiro ataque aconteceu em 8 de abril de 2022, um mês após a realização de um grande evento em comemoração ao Dia da Mulher. “Os assaltantes roubaram todas as nossas mercadorias, 95% dos nossos produtos, equipamentos, acessórios. A gente entende que isso é um ataque racista contra as nossas vidas, é como se a gente incomodasse. É o centro da cidade ocupado por mulheres pretas que estão ali todos os domingos expondo sua arte, seus trabalhos. Não estamos tendo retorno da Prefeitura de Belém e da segurança pública. Os guardas municipais não estão ali para nos proteger, é uma desassistência total. A gente se sente vulnerável, desprotegida”, denuncia.

Uma das integrantes do Coletivo Pretas Paridas Amazônicas, Bruna Raiol, durante o ato, na Praça da República. Foto: Mácio Ferreira / AG Belém

Em nota divulgada no sábado (9), a Prefeitura de Belém, por meio da Coordenadoria Antirracista de Belém (Coant), disse que está tomando as providências.

“A Coordenadoria, assim que soube de mais esse ato de violência, entrou em contato com o Comando da Guarda Municipal de Belém. E a Coant deve oficiar a Secretaria de Estado de Segurança Pública, a fim de pedir celeridade e acompanhar as ações de investigação sobre os atos cometidos contra o Quilombo da República em âmbito da competência de apuração da Polícia Civil”, informou, em nota.

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