A intolerância religiosa vivenciada todos os dias por adeptos das religiões de matriz africana agora ganha destaque em mais um canal televisivo.No dia 30 de janeiro de 2019 os jornais de todo o país noticiaram que após 15 anos de processo, a emissora Record News estava sendo penalizada por exibir programas em 2004 que foram considerados como ofensivos. A mesma está sendo obrigada a exibir cerca de quatro programas sobre as religiões de origem africana.
E na última semana, a emissora Rede Globo que exibe a 19ª edição do programa Big Brother Brasil, em mais uma noite de exibição levou ao ar três “brothers” em uma conversa com comentários intolerantes. Uma das participantes – Paula – chega a dizer que sente medo de Rodrigo por ele “mexer com esses trecos”, “[porque] ele ficou falando lá dos Oxuns dele” e fecha dizendo “nosso Deus é maior”.
Com esta e outras demonstrações de racismo que ocorreram no decorrer desta nova edição do programa, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) abriu um inquérito para apurar tais manifestações no reality.
Intolerância Religiosa no Brasil
No capítulo Perseguição e Repressão de 1991, publicado pela editora Semeador e de autoria de Boanerges Ribeiro, um trecho destaca que “o país da pluralidade não aceitou de forma pacífica e unânime o surgimento/chegada de novos credos e que a violência e a intolerância sofrida pela ‘minoria’ religiosa nem sempre recebia adesão de grande parte das populações, pois estas recuavam sob a pressão da opinião pública local”. Nos dias atuais, a coisa não mudou de figura, pelo menos não tanto quanto gostaríamos. Embora as denúncias de intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana/afro-brasileiras tenham um índice extremamente alto, nada se é feito para que isso seja amenizado. Em pesquisa realizada em meados de 2017 e finalizada ao final de setembro de 2018, foi possível observar que a intolerância religiosa também é muito forte dentro das redes sociais – em especial no Facebook, alvo da análise, os índices dessas manifestações intolerantes foram altos e podem ser melhor observados no gráfico abaixo:
O gráfico esboça uma segunda proposta da pesquisa que foi concentrar os discursos e classificá-los de acordo com três categorias, analisando quatro grupos e três páginas que não possuíam como foco o “debate” acerca do fenômeno religioso.
As categorias podem ser conceituadas da seguinte forma: a) intolerância religiosa que é entendida como um “conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a diferentes crenças e religiões, sejam elas de cunho psicológico, físico ou institucional”, além disso, “ironizar e ridicularizar a importância da cultura e as devoções do outro também o são” (GOMES, PAULA e OLIVEIRA, 2014, p. 57); b) confronto de ideologias/religiões que consiste nos atos de fala que tratam ou demonstram os internautas dizendo que seu ideal ou religião é superior a outra, gerando atritos e desentendimentos. Assim, para se ter uma visão mais ampla do confronto de ideologias, podemos observar que estes comportamento ao que concerne o confronto de ideologias se modificam de acordo com o grupo que é analisado; e c) indiferença que de acordo com o que o dicionário define, é um estado de tranquilidade daquele que não se envolve com as situações. É muito importante que se fomente os diálogos acerca da intolerância religiosa, que se produza mais pesquisas em cima desta temática, pois como podemos ver com esta nova edição do programa e com os discursos analisados dentro do Facebook, temas como este e o racismo estão atrelados e latentes na sociedade.