O estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira, Danilo Araújo de Góis, foi acusado de racismo ao não aceitar receber em mãos um papel para realização de atividade entregue pela docente, Isabel Cristina Ferreira dos Reis, na noite da última segunda-feira (09). Diante da repercussão, o aluno que foi retirada da sala pela coordenação do curso, sofreu retaliação na residência universitária onde mora, na cidade de São Felix. O acusado de racismo teve a porta do quarto arrombada por um dos colegas que gritava não iria legitimar a presença de “macho escroto”.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver um jovem inconformado com a situação, tentando invadir o quarto em que o estudante acusado de racismo estava. “Vocês vão ver com quantos paus se mata um racista. Pode chamar a polícia, o Papa, o que quiser. Você não é macho? Que se faz de macho e oprime mulher preta em sala de aula?”, grita o rapaz visivelmente revoltado com a presença do estudante no local.
Alice Bárbara Rodrigues Santana, também estudante de Ciências sociais da UFRB, esteve nesta quarta-feira (11), na Delegacia de São Félix, acompanhada da colega Helder Santos Souza, conhecida como Helder Ran, para realizar queixa contra Danilo Góis.
Segundo a estudante da UFRB desde abril existem queixas e reclamações contra esse aluno de racismo, homofobia e gordofobia. “Quando ele chegou depois do carnaval, em março, e depois que ele veio para o apartamento 2, onde eu moro como a Helder Ran, já ficamos sabendo que foi homofóbico com os rapazes do apartamento 11, onde os rapazes são gays. Ele disse que nãos e sentia confortável estando no apartamento com “viado” e como ele ia se sentir quanto hétero em um apartamento com gays? Como seria quando ele estivesse dormindo e um gay entrasse no quarto como ele iria se sentir? E ele foi homofóbico várias vezes com Ran e outras pessoas na residência”, afirma Alice.
Alice ainda relata que durante uma discussão Danilo Góis a chamou de “preta, gorda e safada”, mas mesmo diante de várias reclamações, queixas e e-mails enviados para a UFRB apenas a troca de moradia aconteceu, sendo que o estudante seguiu recebendo apoio das políticas afirmativas da universidade, como direito à residência.
“Ele é um estudante branco, do Sudeste, vem de São Paulo e tem essa recorrência de casos de racismo, homofobia, lesbofobia e gordofobia, incutido por ele dentro das instâncias da universidade e na própria universidade. Tem coisa que ele não verbaliza, mas as atitudes mostram. Se uma pessoa preta sentar perto dele em sala de aula ele muda de lugar. E a desculpa dele para os atos de racismo é que faz parte de uma religião, que ninguém sabe qual é porque ele não fala, e que se pegar objetos na mão de outras pessoas pode vir com uma carga de energia e passar para ele. Ele vendia bala no sinal em Cruz das Almas, ele não pegava o dinheiro na mão das pessoas? Ele já até entrou em briga com outro estudante”, relata a bacharelanda Alice Santana.
O estudante Danilo Góis deixou a residência universitária e se abrigou em uma igreja em São Felix. A polícia não identificou o local onde o aluno se abrigou para entregar a intimação, mas segue nas buscas. Em nota, a Universidade do Recôncavo Baiano afirma que repudia a atitude do estudante e criou uma comissão para apurar as denúncias. O aluno fica suspenso até o final do processo que pode durar até 30 dias. Já o corpo de alunos solicita o jubilamento, expulsão de Danilo, por considerar impossível a convivência.
Confira a nota da UFRB na íntegra:
“A Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) manifesta veemente repúdio às atitudes ofensivas do estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis, para com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e outros estudantes do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. A instituição já criou uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e professores do Centro, que informam ter presenciado reiteradas manifestações de preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante.
A UFRB informa que está tomando as medidas administrativas e jurídicas cabíveis ao caso, de modo a contribuir com a apuração dos fatos ocorridos na noite do dia 9 de dezembro, em sala de aula, no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. Após se recusar a receber uma avaliação das mãos da professora, o estudante foi denunciado pelos presentes por ato de preconceito racial, conforme vídeo veiculado em redes sociais.
Como instituição de ensino superior comprometida com os valores democráticos, o respeito à diversidade e implicada com os territórios de identidade em que está presente, a UFRB rechaça todo e qualquer ato de racismo, sexismo, LGBTfobia, intolerância e/ou violência, seja no âmbito acadêmico ou no cotidiano em geral.
A UFRB considera fundamental ao processo formativo na graduação e na pós-graduação o respeito às diferenças para constituir um ambiente de convívio saudável, sem discriminação. Ao mesmo tempo, a instituição manifesta solidariedade à professora e estudantes ofendidos no espaço da Universidade e reafirma seu compromisso em não deixar impunes atitudes desta natureza”.