Grande Recife atinge 200 vítimas de bala perdida, mostra relatório

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Um levantamento realizado pelo Instituto Fogo Cruzado revela que a Região Metropolitana do Recife (PE) chegou Às 200 vítimas de bala perdida, desde o início da série histórica, iniciada em abril de 2018. Os números mostram que, mensalmente, são quatro pessoas atingidas por engano.

Ao todo, 21 pessoas vieram a óbito e 179 ficaram feridas. Somente no mês de dezembro de 2022, foram sete casos registrados, com duas pessoas mortas e cinco feridas, segundo o levantamento do Fogo Cruzado.

2022 foi o ano com maior incidência de vítimas de bala perdida no Grande Recife – 68 com 58 mortos – Foto: Pixabay

Para Cecília Oliveira, diretora Executiva do Instituto Fogo Cruzado, somente em 2022 foram 68 pessoas vítimas de bala perdida no Grande Recife e 58 perderam a vida. Ela ressalta o tamanho do impacto social dessas mortes.

“A maioria das vítimas são homens adultos, pessoas que são arrimo de família, mão de obra importante.. As balas perdidas impactam não só a vítima direta, mas destroem famílias que perdem, pais, maridos, irmão, filhos”, aponta.

Ela enfatiza ainda que esses dados são necessários para a construção de políticas públicas que venham mudar o panorama da segurança pública em todo país, não só no Recife, como é o caso apresentado. “É preciso saber o que acontece, onde, com que frequência, em decorrência do quê, para então, traçar um plano para poupar estas vidas. E hoje falta em Pernambuco dados de qualidade para a elaboração de políticas públicas que possam realmente proteger a população. Sobre os poucos dados que produz, falta transparência”, comenta.

Edna Jatobá, coordenadora do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), ressalta que a quantidade de atingidos por balas perdidas revela a fragilidade da segurança pública e a grande quantidade de armas em circulação no Estado.

“Pernambuco tem uma característica própria: a maioria dos tiros ocorridos na região metropolitana têm alvo certo. Mas isso não significa que as pessoas ao redor estão livres de ser vítimas desses disparos, muito pelo contrário. Um único episódio de tiroteio pode vitimar diversas pessoas ao redor. É matemática simples: mais armas circulando nas cidades significa mais possibilidade de homicídios, e também mais vítimas de balas perdidas”, analisa.

Perfil do local e vítima

Nem no aconchego do lar o cidadão está seguro, é o que aponta o relatório. Entre as 200 vítimas, 20 estavam dentro de casa quando foram atingidas (10% do total). Dessas, uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas. Além disso, outras 20 pessoas foram atingidas dentro de bares, sendo uma morte e 19 feridas.

A Região Metropolitana do Recife é composta por 15 municípios e as maiores incidências de vítimas são no próprio Recife, com 46 tiroteios, 43 mortos e 19 feridos; Jaboatão dos Guararapes, 25 tiroteios, 20 mortos e 10 feridos; e Olinda, totalizando 11 tiroteios, 9 mortos e 4 feridos.

O número de feminicídios no Estado também aumentou nos últimos 4 anos – Foto: Freepik

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As crianças também se tornaram vítimas das balas perdidas nos últimos anos. De acordo com o levantamento, entre 2018 e dezembro de 2022, foram 24 crianças atingidas, quatro morreram e 20 ficaram feridas. Outros 17 adolescentes também foram vítimas no mesmo período, com um morto e 16 feridos.

Já o gênero das vítimas continua sendo o de maior prevalência nos crimes em geral: dentre os 111 mortos na Região Metropolitana do Recife, 104 eram homens (94%) e 6 mulheres (7%). Essa quantidade vítimas femininas reflete nos casos de feminicídios, segundo Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco.

No ano de 2022, segundo o Fogo Cruzado, a Polícia Civil de Pernambuco deflagrou as operações para combater os crimes de homicídio, tráfico de drogas e comércio ilegal de armas. Porém, em 2021, policiais foram presos, acusados de tentar revender armas apreendidas. “Isso mostra que é necessário repensar esse acesso e os mecanismos de controle – que foi a decisão tomada pelo presidente Lula assim que tomou posse”, afirma.

O controle das armas de fogo precisa ser mais efetivo – Foto: Pixabay

Ela lembra o caso de Gabriela Mara da Silva, de 27 anos, que foi morta pelo ex-companheiro, no município de Paulistas, com um tiro no peito. O homem invadiu a casa, ateou fogo em Gabriel, quando ela tentava fugir, ele disparou contra a mulher.

“Parte do discurso pró-armas diz que ter uma arma de fogo dentro de casa é sinônimo de segurança para a família. Isso cai por terra quando lemos casos de feminicídio como os que aconteceram na região metropolitana do Recife, em dezembro. As mulheres ainda tentaram fugir, mas as balas as alcançaram. Armas de fogo têm alto poder de letalidade e quando estão num contexto cíclico de violência levam a finais muito trágicos“, avalia.

“É urgente que haja controle no acesso às armas de fogo e que os agressores tenham seu acesso à arma revogado, quando for o caso e suas armas apreendidas”, conclui a coordenadora.

Soluções a médio o longo prazos

A análise dos dados, segundo Cecília Oliveira, revela que os Estados sozinhos não conseguem resolver os problemas das armas. Ela critica também a falta de dados nacionalizados, como um índice nacional de
homicídios. Ela lembra ainda que alguns crimes são nacionais e muitas vezes transnacionais, como o tráfico de drogas e precisa de ações de combate por todo território nacional.

“Precisamos de políticas articuladas nacionalmente para isso. A começar por um índice nacional de homicídios e pela melhoria da produção de dados públicos. A tecnologia pode ser um instrumento usado no combate ao apagão de dados sobre violência armada e uma ferramenta para democratizar o debate sobre segurança e estimular a participação cidadã na construção de políticas públicas”, finaliza.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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