“O que está acontecendo no Brasil é a institucionalização da barbárie”, diz o ex-comandante geral da PM do Rio de Janeiro

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Ibis Pereira ex-comante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro

Em apenas uma semana no Rio de Janeiro, agentes que deveriam proteger a sociedade executam 16 jovens negros. No dia 08 de fevereiro durante uma operação do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais, tropas de elite da PM, 13 pessoas foram executadas no Morro do Fallet, no Rio Comprido, região central. No domingo outros dois corpos foram encontrados na mesma comunidade. Nesta quinta-feira (14), um jovem de 19 anos foi morto com ‘gravata’ por segurança em supermercado. Para o ex-comandante da Polícia Militar no Rio de Janeiro, Ibis Pereira, o Brasil vive uma grave crise civilizatória.

Em 2017, mais de 63 mil pessoas foram vítimas de mortes violentas no Brasil, destas mais de 70% são negros, pobres e moradores de comunidade, segundo o ex-comandante: “O comportamento bizarro desse segurança tem relação com a atmosfera que estamos vivendo. A violência tem um componente de imitação. Há toda uma vontade de matar, que sai do subterrâneo e passa para o campo discursivo, com um comportamento violento. Isso se estende como um contágio. A primeira coisa que as autoridades precisam tomar cuidado é com a própria língua”, diz o ex-comandante da PM do Rio.

Ibis Pereira ex-comante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro

Segundo Ibis, o cenário político atual estimula a banalização da violência e facilita seu uso, que seja ao fazer sinal de armas com as mãos ou criando um pacote de medidas anticrime como o elaborado pelo Ministro Sérgio Moro: “Nosso Ministro da Justiça tem um pacote que amplia os limites da legítima defesa num desdobramento desse discurso de violência. Começa com um discurso que se materializa em um projeto de lei e chega no mercado na esquina, envolvendo uma pessoa que nem policial é (o segurança do supermercado). Esse desejo de matar contagia, pois ele se espalha por imitação. Por isso, a primeira coisa que as autoridades precisam tomar cuidado é com a própria língua, por que esse tipo de “maluquice” se espalha. Se o presidente do Brasil se elege fazendo arminha, porque eu segurança de supermercado também não posso?”

Vivemos num país contruído a partir da brutalidade, erguido a partir da escravidão e essa brutalidade que nunca foi resolvida chega ao poder”

Para Ibis Pereira a brutalidade no Brasil começa a ser motivo de orgulho. O ex-comandante cita o caso de um deputado estadual do Rio, do PSL, partido do atual presidente, que emoldurou em seu gabinete uma placa que ele mesmo quebrou durante as eleições, com o nome da vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada em 2018: “Quando a brutalidade começa ser uma coisa banal ao ponto de virar troféu, que é o que acontece hoje, ela se espalha pra sociedade. Vivemos num país construído a partir da brutalidade, erguido a partir da escravidão e essa brutalidade que nunca foi resolvida chega ao poder. Hoje a brutalidade está no poder e na mentalidade das pessoas. Essa brutalidade estrutural e estruturante que está no poder é obvio que vai atingir a vítima preferencial que historicamente é o negro e o pobre. O que está acontecendo no Brasil é a institucionalização da barbárie. As pessoas não tem mais vergonha de serem más”, diz o ex-comandante geral da PM do Rio.

Neste domingo (17) acontecerá uma manifestação em frente ao supermercado Extra, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, local onde Pedro Gonzaga foi brutalmente assassinado no último dia 14. O jovem de 19 anos, acusado de tentativa de furto no estabelecimento, foi imobilizado pelo segurança do hipermercado e faleceu depois de uma parada cardíaca. O agente foi preso, foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, mas pagou fiança de R$10 mil reais e foi liberado.

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