O catolicismo no Brasil vem perdendo espaço e fiéis para os evangélicos. É o que revela uma pesquisa Datafolha publicada nesta semana pelo jornal “Folha de S.Paulo”. O levantemento aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Em relação a gênero e raça, a pesquisa demonstrou que 58% dos evangélicos são mulheres, entre as quais 43% se identificam como pardas e 16% como pretas. As brancas são 30%, segunda maior porcentagem, e as mulheres amarelas e indígenas aparecem com 3% e 2%, respectivamente.
A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Nas igrejas neopentecostais – uma das ramificações dentro da doutrina protestante – as mulheres são 69% do total dos fiéis. Estas igrejas são consideradas um importante reduto do Bolsonarismo. Entre os católicos, as mulheres representam 51% dos fiéis, enquanto os homens são 49%.
Em pouco mais de uma década, evangélicos devem ser maioria no Brasil
A jornalista franco-marroquina e especialista em América Latina, Lamia Oualalou defende que esse crescimento das igrejas evangélicas no Brasil aconteceu pois estes líderes religiosos ocuparam o espaço do estado. Segundo ela, o movimento evangélico que se apoderou do primeiro país católico do mundo e, a partir dali, muito antes das eleições presidenciais em 2018, derrotou a esquerda brasileira na intimidade dos templos das múltiplas igrejas evangélicas que brotam pelo país.
“Houve vários fatores combinados. Por um lado, pouco a pouco a Igreja Católica foi desaparecendo dos lugares mais populares, sobretudo das novas cidades e favelas que foram criadas em uma velocidade enorme, após os anos 70. A Igreja Católica tem aqui um problema de presença urbana: nas favelas e cidades emergentes, a Igreja Católica não entra. Nesse mundo suburbano, pobre, com gente oriunda por exemplo do Nordeste, não há lugares de socialização. A única coisa que existe é o templo evangélico, onde podem cantar, fazer amigos, deixar seus filhos. Não estão presentes o Estado com seus auxílios (saúde, trabalho, educação), nem a Igreja Católica, mas, sim, os evangélicos que costumam prestar alguns desses serviços. Os evangélicos, no Brasil, ocuparam o espaço do Estado com o consecutivo impacto cultural e político que isso acarreta: as pessoas só ouvem a rádio evangélica, veem o canal evangélico, participam dos grupos evangélicos do Facebook e WhatsApp. As pessoas vivem fechadas nesse mundo. E, claro, vivem nesse círculo porque os partidos e movimentos progressistas, o PT por exemplo, abandonaram estas pessoas. Por fim, o que aconteceu é que foram cortadas as pontes para dialogar com as pessoas humildes”, contou a jornalista em entrevista ao repórter Eduardo Febbro.
O pesquisador em demografia, José Eustáquio Alves, que se aposentou este ano do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou uma pesquisa que diz que, a partir de 2032, fiéis evangélicos serão maioria do país, desbancando os católicos para o segundo lugar.
Os principais motivos para o crescimento deste segmento religioso nos últimos anos, segundo o pesquisador, foram o ativismo evangélico, a passividade católica e maior participação de igrejas evangélicas na política, assim como é visto no governo de Jair Bolsonaro.
Esta expansão da religião evangélica acontece há mais de 10 anos. Entre 1991 e 2010, os católicos caíam 1% ao ano, enquanto os evangélicos cresciam 0,7%. Segundo o pesquisador, se aplicar estas taxas num modelo de projeção geométrica, é possível chegar à previsão de que evangélicos serão maioria em pouco mais de 10 anos.