Morre o músico e cantor guineense, Américo Gomes, aos 51 anos

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Morreu na última quarta feira (19), em Portugal, o músico, cantor, Américo Gomes, uma das figuras mais importante da música guineense. Ele foi encontrado morto em sua residência em Lisboa, segundo fontes próximas aos familiares que aguardam por uma autópsia das autoridades portuguesas para determinar a causa da morte do cantor, segundo a RTP.

Américo Gomes, nasceu em 20 de janeiro de 1974 em Guiné Bissau, Região de Cacheu, Norte do país, Canchungo. Com uma carreira sólida, lançou sete álbuns como cantor, foi o primeiro artista guineense a conquistar um disco de prata, feito alcançado com o álbum Nha Nomi, (2001). Entrou na música aos 13 anos e destacou-se em competições internacionais, incluindo um prémio da Rádio França Internacional (RFI). Em 31 Dezembro 2021 lançou seu último álbum intitulado “Atrição”, um disco que homenageia Calózinho, dos Tabanka Djazz. 

Américo Gomes tinha 51 anos quando faleceu /Foto: Reprodução Redes Sociais

Mudou-se para Portugal, onde gravou o primeiro álbum, Mundo Mein (1990), e mais tarde à Alemanha, onde viveu durante oito anos e se licenciou em Gestão Empresarial na Universidade de Hamburgo. De regresso a Portugal, fundou a sua própria editora e continuou a lançar discos, consolidando o seu legado na música guineense.

Residente em Portugal há 30 anos, Américo Gomes também se envolvia na política como ativista. No último dia 14 ele postou em sua rede social um vídeo respondendo críticas de algumas pessoas sobre  posicionamento que ele havia feito apontando para o fim do mandato do atual governo da Guiné Bissau previsto para dia 27, exigindo assim sua saída do cargo já que este não organizou as eleições.

Tem muitos opositores me dizendo para parar de falar da política pois não sou político sou músico, afinal essas pessoas não sabem o que é ser músico, um músico em crioúlo quer dizer tcholonadur é, aquele que conta os fatos, e eu como músico tenho obrigação de defender o meu povo enquanto existe problemas”, disse ele.

Repercussão

A ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Maria da Conceição Évora, escreveu, em sua rede social: “Diguidaz”, como o cantor gostava de ser chamado, “a tua passagem pela terra foi curta, mas, deixastes um grande legado“, disse ela, e continuou:

Os artistas não morrem. A tua música será tocada e ouvida para sempre em todos os cantos do mundo“, escreveu Conceição Évora.

O Ministério das Finanças, pasta ocupado pelo irmão do falecido (Elísio Gomes Sá) como secretário de Estado do Orçamento e Assuntos Fiscais no atual Governo guineense, através da sua página nas redes sociais publicou uma nota de pesar. “A morte é sempre um acontecimento trágico e doloroso“, diz a nota, que continua:

Recebemos a triste notícia da morte do grande artista Américo Gomes, e neste momento de dor e consternação, expressamos as nossas condolências e estendemos os nossos sentimentos de profundo pesar à família de S. E Senhor Secretário de Estado do Orçamento e Assuntos Fiscais, aos amigos e colegas. Rogamos a Deus que conforte os corações de todos!”, conclui a nota.

O economista guineense e antigo subsecretário-geral das Nações Unidas e diretor de assuntos políticos da organização, Carlos Lopes, escreveu em guineense “crioulo”, também nas redes sociais, que ainda não acredita que Américo Gomes morreu.

Foto: Reprodução Redes Sociais

Ainda não acredito que nosso irmão nos deixou. como filho de Canchungo eu costumava ouvir as tuas músicas que me ajudaram a lembrar a minha terra. Filho de Deus, o que foi que te matou? Qual azar que lhe aconteceu ontem? Mas, em todo caso, sei que retornarás, nas nossas memórias, djubai e comunidades, estaremos sentados nas cadeiras aguardando sua chegada”, escreveu Carlos Lopes.

Quem também se solidarizou e lamentou a morte do cantor, foi o músico, cantor da “nova geração” Bigna Manuel Albino Pereira, Pistola, do grupo musical RRP FOREVER. “Diguidazz, você não tem nenhuma dívida com a Guiné Bissau, fizeste a sua parte como profissional e como cidadão guineense, igual a ti não existe na Guiné”.

Foto: Reprodução Redes Sociais

Vários partidos e líderes políticos também expressaram o seu pesar “pelo falecimento repentino” de Américo Gomes.

As rádios de Bissau e as páginas das redes sociais dos guineenses estão marcadas por músicas e fotografias de Américo Gomes, que é considerado um dos mais talentosos músicos do país dos últimos 30 anos.

Cantava em guineense “crioulo”, em mandjaku (sua língua materna), em francês, em inglês e em wolof, uma das línguas nativas do Senegal, país onde também é bastante popular, tal como na Gâmbia, onde, aliás, tinha um concerto marcado para os próximos dias.

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Euclides Iala

Euclides Iala

É natural da Guiné Bissau, atualmente reside em Fortaleza, Ceará. É licenciado em Letras Português/Francês pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente é vice-presidente do Conselho Fiscal da Associação dos Estudantes da Guiné Bissau no Estado do Ceará (AEGBEC). É também estagiário do Serviço Pastoral dos Migrantes, onde trabalha na casa dos migrantes que tem foco em dar suporte a população venezuelana em processo de adaptação, residência, documentação e encaminhamento para o mercado do trabalho. Atua como colaborador do Notícia Preta.

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