“O racismo está na vida das pessoas desde a infância, mas discutimos pouco”, diz pedagoga

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“O racismo causa impactos danosos do ponto de vista psicológico e social na vida de toda e qualquer criança ou adolescente”, é o que revela um relatório da UNICEF que analisa como o preconceito racial reflete na vida de crianças e adolescentes.

Em entrevista ao Notícia Preta, a pedagoga e pesquisadora do Instituto Moreira Salles (IMS) Viviana Santiago, fala sobre os impactos que o preconceito racial causa na infância.

“As dinâmicas racistas da nossa sociedade, fazem com que as pessoas negras continuem as margens. Acaba que em espaços de vulnerabilidade, essas pessoas são maioria”, declara a pedagoga. “Crianças negras são a maioria das institucionalizadas, das que estão nas ruas, são elas que estão desassociadas de seu direito a morar. Essas são características do racismo”, enfatiza Viviana.

A cidade de São Paulo realizou em maio deste ano, um censo para contabilizar a população de crianças e adolescentes em situação de São 3.759 meninos e meninas de 0 a 17 anos. Desse total, 70% são negros (pretos e pardos). O último senso havia sido feito em 2007, quando foram contabilizadas 1.842 crianças e adolescentes, de lá pra cá a quantidade mais que dobrou.

“Esses dados, da maioria das crianças em situação de rua serem pretas, explicita o racismo estrutural e as dinâmicas racistas dessa sociedade. Essa é uma característica dessa situação do racismo que afeta não só a população adulta, como também sua infância. Esses estudos também mostram a importância de agregar dados por raça no Brasil. Uma forma de fazer o enfrentamento dessas situações é quando abrimos os dados e questionamos o peso da questão racial, na reprodução desses fenômenos”, conclui a pesquisadora.

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Viviana Santiago, pedagoga do IMS Foto: Arquivo Pessoal

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Para a pesquisadora é urgente pensarmos em ações de enfrentamento ao racismo e de convivência étnico racial desde a infância. “ O racismo está na vida das pessoas desde a infância, mas discutimos pouco. É importante jogar luz a esses episódios com recortes raciais, mas também promover que as crianças possam ter acesso a repertórios que possibilitem a elas a construção de uma identidade racial saudável”, afirma Viviana.

De acordo com a pedagoga, as estratégias de enfrentamento ao racismo na infância também devem abranger pessoas brancas. “Existe um papel para as famílias brancas também no processo de proteção de crianças negras. Pensar a relação da branquitude com racismo na infância é essencial pois ela se opera nas relações de crianças para crianças e adultos para crianças negras. O racismo na infância existe também por um mundo adulto que reproduz o racismo”, conclui.

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Polianne Lima

Polianne Lima

Polianne Lima é estudante e estagiária de jornalismo na TV Cultura de SP. Nasceu e cresceu no fundão da zona leste e, apesar dos 25 anos, ainda não sabe andar de bicicleta.

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