“São pessoas trabalhadoras e não podem se divertir”: grupo de amigos denuncia racismo em camarote na Sapucaí

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Um grupo de amigos denuncia que sofreram racismo em um evento no Camarote Arpoador, no Rio de Janeiro, na madrugada quarta-feira (14). De acordo com membros do grupo de 8 pessoas, tudo aconteceu quando alguns deles foram acusados de roubar um celular durante a festa no espaço, que funciona na Marquês de Sapucaí, onde desfilam as escolas de samba do grupo especial e de acesso.

Em entrevista ao Notícia Preta, uma das vítimas que faz parte do grupo de maioria negra, a designer Raphaela Machado, conta que ficou com vergonha, raiva e se sentiu humilhada com toda a situação. “Todas [as pessoas] que estavam ali pagaram seus ingressos, são pessoas trabalhadoras. E não podem se divertir porque a casa grande não quer“, desabafa. O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Em detalhes, a designer de 30 anos conta que o grupo estava dançando perto do palco, quando um homem branco se aproximou com duas mesas, afirmando que as colocaria onde o grupo estava como ordem do dono do camarote, e que então se apertaram para que ele colocasse as mesas. “Logo após chegou um grupo de pessoas que estavam com ele”, conta.

Depois de um tempo, ela conta que uma briga começou, e que após a confusão, uma de suas amigas chutou um objeto que parou no pé de uma outra amiga, que viu que era celular no chão. Imediatamente ela perguntou de quem era. “Como não era de ninguém do nosso grupo, perguntei para o grupo ao lado se era de alguns deles. Uma mulher loira disse que era dela entreguei o aparelho. A mesma me disse que um cara tinha pego o celular da bolsa dela“, diz Raphaela.

Mas a situação começou a complicar quando uma das amigas da dona do celular, perguntou se elas conheciam o menino que tinha furtado o objeto, e o motivo do celular estar desligado. A designer conta que sua amiga Giuliana Oreoluwa contou que o celular foi encontrado no chão, e que já havia sido entregue, quando a amiga da dona do celular disse:

Não, você está entendendo tudo errado, eu só estou querendo esclarecer uma situação, porque o segurança disse que o menino entregou o celular na sua mão”. Segundo Raphaela, a menina disse isso apontando para ela. Depois de tentarem se defender da acusação, a discursão acabou.

Relato de uma das amigas de Raphaela, nas redes sociais, sobre o caso

“Passado um tempo chegaram 3 seguranças do evento, dizendo que seria necessário nos acompanhar para prestar esclarecimentos. Fomos conduzidas a porta da saída e começamos a gravar, filmar, abrimos live no Instagram, afinal temíamos a nossa segurança”, diz Raphela, que afirma que após o constrangimento, os seguranças sumiram.

Quando voltaram Raphaela afirma que a segurança que as abordou não sabia o motivo para retirar o grupo do local, que estava apenas ajudando um amigo e que “uma menina loira de roupa toda preta, junto a seu namorado, pediram para nos tirar de onde estávamos“, segundo a designer. Foi então que o grupo decidiu chamar a polícia, sem sucesso.

O chefe de segurança chegou dizendo que se tratava de um mal entendido, que fomos tirados do nosso lugar sim, mas em seguida fomos liberados pelo rádio comunicador interno da segurança e que não se tratava de uma questão de cor, raça ou opção sexual, logo não houve nenhuma conduta discriminatória da parte do evento“, conta.

Raphaela conta que ninguém da equipe prestou apoio ao grupo, e que a denúncia no boletim de ocorrência feita na quinta-feira (15), consta como “Preconceito de Raça”. A designer também conta que nesta sexta-feira (16), uma assessora de imprensa do camarote entrou em contato informando que o evento foi organizado por outra empresa, utilizando apenas o espaço do Camarote Arpoador.

Segundo ela, a mulher ofereceu o contato de quem organizou. “Respondi que queria o contato e até agora não obtive resposta“, diz Raphaela, que não sabe o nome do responsável por organizar o evento.

O Notícia Preta tentou contato com o Camarote Arpoador, mas até o fechamento desta matéria, não recebeu nenhuma resposta. O NP também entrou em contato com a Polícia Civil, que informou que o caso “foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi)” e que as “diligências estão em andamento para apurar os fatos’.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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