E eu não sou uma mulher? O racismo no mercado de trabalho

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*Por Iane Pessoa

Dentre os temas relacionados à diversidade e inclusão, a busca pela agenda da equidade de gênero tem sido uma das pautas mais debatidas pelas empresas. Contudo, ao fazer um recorte racial, as mulheres negras estão longe de serem incluídas nessas políticas e são as que mais sofrem tanto com a falta de oportunidades de trabalho quanto com salários desiguais.

Foto: Pexels

Os dados do IBGE indicam que a população brasileira no total é formada majoritariamente por pessoas negras (54%); mulheres negras representam 27,8%. Mesmo sendo maioria, a pesquisa “Protagonismo das mulheres nas empresas”, realizado neste ano pela consultoria em marketing digital Triwi com mais de 21 mil empresas em todo Brasil, revela que 25,1% delas não possuem nenhuma mulher negra em todo o seu quadro de funcionários.

Outros estudos também escancaram a dura realidade enfrentada por mulheres negras. O levantamento realizado pelo Insper “Diferenciais Salariais por Raça e Gênero para Formados em Escolas Públicas ou Privadas”, com base em dados da Pnad Contínua de 2006 a 2018 e análise de cinco profissões (engenheiros/ arquitetos, médicos, professores, administradores e cientistas sociais), relata que a média dos salários dos homens é sempre 100% maior do que a de mulheres negras e chega a quase 160% para aqueles que possuem ensino superior público.

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Ao fazer a análise somente entre mulheres, a pesquisa mostra que as brancas que possuem ensino superior e são formadas no ensino público recebem em média 55,55% a mais do que negras.

Durante a pandemia, essa foi uma realidade ainda mais difícil. Um estudo feito pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP, divulgado em setembro do ano passado, mostrou que nas diferentes fases do Auxílio Emergencial, e em todos os cenários, as mulheres negras foram as que mais sofreram com a pobreza e a extrema pobreza. Quando o benefício foi suspenso, entre janeiro e março de 2021, 41% delas estavam em situação de pobreza e 14,6% em extrema pobreza.

E se para mulheres cisgênero o desafio de sobreviver é dobrado, para mulheres trans e travestis é ainda maior. A intersecção faz com que o machismo, o racismo e a transfobia sejam fatores discriminatórios, que marginalizam todos os dias essas mulheres na base da pirâmide social brasileira.

De acordo com o Atlas da Violência no Brasil, em 2018 houve 183 casos de morte e violência contra trans e travestis no país e, destes, 82% eram pessoas negras. Quando analisado o perfil das pessoas transexuais assassinadas em 2019, percebe-se que as vítimas eram jovens, com idade média entre 15 e 29 anos (59,2%); em sua maioria negra (82%) e que 67% desses eventos foram direcionados contra travestis e mulheres transexuais, profissionais do sexo, que são as pessoas trans mais expostas aos atos de violência.

A busca pela inclusão de mulheres negras cis, trans e travestis no mercado de trabalho precisa ser incluída na busca por equidade de gênero. Sem isso, ocorre apenas a manutenção do privilégio branco cisgênero feminino.

 *Iane Pessoa é especialista em Diversidade e Inclusão da Condurú Consultoria. 

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