Dia Mundial da Educação: educadora ressalta a importância do ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas

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28 de abril é celebrado o Dia Mundial da Educação. No entanto, alguns entraves para a comunidade negra ainda são constantes e provocam reflexão. A Lei 10.639/2003, tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país. Afinal, já parou para pensar quantos negros foram usados como referência de ensino ao longo do seu tempo escolar? 

Jaciana é historiadora e educadora social – Foto: Ana Barbosa

Jaciana Melquiades é educadora social, historiadora e consultora educacional de igualdade racial, dedica sua trajetória profissional a encontrar meios de reduzir os impactos estruturais do racismo na educação. Para ela, mesmo a população negra sendo maioria no Brasil, não ocupa todos os espaços da sociedade e o racismo é peça-chave desse sistema discriminatório.

Jaciana, que também é sócia-fundadora e diretora executiva da “Era Uma Vez o Mundo” – Startup educacional e de impacto social, destaca que é fundamental a aplicação da Lei ainda na fase infantil do indivíduo, em prol de uma sociedade mais igualitária. “Essa é uma lei de janeiro de 2003, que entrou em vigor para alterar a Lei de Diretriz da Educação. Estamos falando de olhar diretamente para o apagamento que nossa história sofreu e construir um futuro saudável, o que só é possível com todos nós sabendo de onde viemos”, acredita. 

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Ela lembra ainda que o racismo é um dos meios de retirar a direito do povo preto à educação, ao conhecimento, inclusive de suas raízes. “A evasão escolar é um sintoma de uma questão estrutural e aprofundada das desigualdades: o racismo. Ele é responsável pela desumanização de corpos pretos, pelas agressões cotidianas que sofremos e, consequentemente, pelas mazelas sociais que nos acometem. Um dos sintomas e uma das ferramentas de combate ao racismo é justamente uma educação de qualidade, que permita que que sejamos todos e todas educados para o respeito às diferenças”, ressaltou Jaciana.

História Negra

Para a historiadora, a aplicação da lei pode ajudar ainda na reconstrução da autoimagem negra. “Se aplicada corretamente, recuperamos as narrativas que tiram a história negra dessa redução que conhecemos. Insistem em reduzir a nossa história à escravidão. Nossa história começa muito antes e é isso que precisa estar nas escolas: um olhar afrocêntrico que permita a construção de nossa imagem com toda riqueza que nos cabe”, pontua. 

Jaciana também é sócia-fundadora e diretora executiva da “Era Uma Vez o Mundo” – Startup educacional e de impacto social, que desenvolve  brinquedos e atividades educativas afrorreferenciadas – Foto: Ana Barbosa

De acordo com Jaciana, embora seja difícil a lei em exercício em todas as escolas públicas do país, acreditar em profissionais que – assim como ela – lutam por inclusão e escolas para todos, é indispensável. “Infelizmente a instituição, de uma maneira geral, é alicerçada nessa estrutura racista que forjou o Brasil. Conheço uma escola pública em São Paulo, modelo de aplicação da lei e sonho mesmo que seja replicada. É prova de que se toda equipe acredita no projeto, é possível fazer dar certo. A Escola Municipal Educação Infantil Nelson Mandela nos prova isso”, frisou.

“Acho que a lei é uma ferramenta que serve para uma tentativa de correção das escolas que já temos em pleno funcionamento. Sonho com o tempo o qual teremos escolas afroncentradas, pensadas por nós e para os nossos. Muitos intelectuais trabalham para isso, inclusive. Mas para fins urgentes, é necessário que insistamos na aplicação da lei”, conclui.

Dia Mundial da Educação

A data foi estabelecida em função do Fórum Mundial da Educação, organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). O encontro, considerado um marco para o ensino global, aconteceu em Dakar, capital do Senegal, no ano 2000.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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