“Me sinto ferida como mulher negra”: enfermeira denuncia colega de trabalho com caneca da Ku Klux Klan

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A técnica de enfermagem, Rosana Rezende, denunciou uma colega de trabalho por usar uma caneca com um símbolo racista, em referência ao grupo supremacista branco americano Ku Klux Klan, no Hospital Federal dos Servidores do Estado, Centro do Rio de Janeiro. Na caneca estava escrito um trocadilho com o nome da Ku Klux Klan: “Sou da cuscuz Klan”.

A Ku Klux Klan é um grupo supremacista branco, que perseguia e matava negros e defensores das causas raciais. Surgiu no Estados Unidos no século XIX após a guerra civil americana e chegou a ter 4 milhões de membros no início do século XX.

Foto: Reprodução/G1

“Me sinto ferida na minha existência como mulher negra, como ser humano, não só como mulher negra, porque uma organização supremacista branca, que foi criada com o objetivo de extermínio de pessoas, independente de raça, porque é negro, até porque não foi só isso, porque eles também assassinavam judeus, assassinavam gays, assassinavam católicos. Então, a gente não pode normalizar essa situação”, afirma a técnica de enfermagem, em entrevista ao portal G1.

Rosana contou também que a mulher, Marília Romualdo do Amaral, usava a caneca na copa do hospital durante os intervalos. A denunciante teria tentado conversar com a colega sobre o assunto, mas sem sucesso. Por isso Rosana levou o caso para chefia e ouvidoria do hospital, que, de acordo com ela, teria considerado o caso como “liberdade de expressão”.

“A colega ostentando esse símbolo me diz: ‘Não ligo para sua vida, ‘A sua vida não significa nada para mim’, ‘Estou ostentando o símbolo de uma organização suprematista branca que exterminava as pessoas iguais a você, que não ligavam pra sua vida’. É isso que ela me falava. Então, isso me feriu muito”, continua.

Diante da postura do hospital com relação ao caso, Rosana procurou o sindicato para ajudá-la. “Nós falamos para a divisão de enfermagem do hospital que isso é crime, que propagar, divulgar símbolos racistas é crime, e nós vamos para a delegacia, vamos registrar”, afirma Oswaldo Mendes, diretor do Sindisprev/RJ, também em entrevista para o G1.

A advogada, Waleska Miguel Batista, do Instituto Luiz Gama, de defesa de causas populares e da população negra, diz que a agressora cometeu crime de racismo e nada pode ser atenuante ou servir para amenizar a atitude dela contra a vítima.

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“Quando a gente tem a constatação de que é um movimento de supremacistas brancos, que é um movimento de inferiorização de um grupo específico, que é a população negra, ali a gente está vendo no mínimo a prática do racismo. Não pode nem dizer que é uma questão individual, porque ataca a toda a coletividade. O racismo deve ser punido, ele não é aceitável, ainda que como piada, ele também é reconhecido ali, ou seja, piada não é justificativa para liberdade de expressão, liberdade de expressão não se justifica com crime”, explica.

Em nota, o hospital limitou-se a dizer que “está apurando o caso e enfatiza que não compactua com qualquer tipo de manifestação racista ou que atente contra os direitos humanos”.

Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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