O Instituto Brasileiro de Análises Sociais (IBASE) divulgou nesta segunda-feira (16), uma pesquisa realizada este ano no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, aponta que 75% das casas com crianças até 6 anos, convivem ou conviveram com algum dos níveis de insegurança alimentar (moderada à grave) nos últimos três anos.
A pesquisa “Indicadores de Cidadania do Ibase – Insegurança Alimentar no Complexo do Alemão”, divulgada neste Dia Mundial da Alimentação, também revela que 11% dos entrevistados afirmam que suas crianças ficaram o dia todo sem comer por falta de dinheiro para comprar comida. Ao todo, foram 8.676 entrevistados, com idades acima de 15 anos. Também fizeram parte da pesquisa o Instituto Raízes em Movimento e a ONG Educap.
O relatório aponta que depois da pandemia da Covid-19, muitas famílias passaram por dificuldades para alimentar seus filhos e nas favelas e comunidades brasileiras, a situação ficou ainda mais complicada. A abordagem contou com ajuda de pessoas das 13 comunidades do Alemão, a maioria são mães que estavam desempregadas e receberam um treinamento intensivo sobre como funciona a pesquisa, que abordou as pessoas nas ruas.
A socióloga e pesquisadora do Ibase Joice Lima, comenta os dados coletados.
“A gente percebe com esses números que a situação do Complexo do Alemão não é bem pior do que a gente imaginava. Esse período pós-pandemia, muitos de nós, em nossas bolhas, não conseguimos entender a dimensão da situação da população no Complexo do Alemão. Esses são dados que vão falar das casas em que as famílias têm crianças de zero a seis anos e esse é um dado muito alarmante”, disse ela
Sobre os adultos, a análise apontou que 40% deles diminuíram a quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições por não terem condições de comprar alimentos. Já no caso das crianças de até seis anos de idade, a pesquisa mostra que 68,3% das famílias com crianças nessa faixa de idade tiveram que comprar alimentos de baixo custo para alimentar os pequenos, no Complexo do Alemão.
“Pensar dentro dessas questões vamos vendo só o agravamento, porque quando uma criança começa a passar fome dentro de casa, toda a família já está numa situação muito grave. A maioria das famílias vão tentando regular esse alimento para que não falte para as crianças, mas chega um momento em que, infelizmente, isso não acontece”, finaliza Joice.
Assistente social e coordenadora de projetos da ONG Educap, para Lúcia Cabral a fome não existe só no Complexo, o estudo mostra que a fome acontece em todas as favelas.
“Precisamos pensar na insegurança alimentar como uma situação acontece durante todo o ano e não só no Natal, como vemos campanhas de final de ano, mas nos outros 364 dias, as famílias ficam com as panelas vazias. Então, precisamos pensar realmente em fazer a intervenção correta durante o ano”.
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