Advogado negro abordado por PM aponta racismo e ouve que “estava sendo deselegante”

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O advogado Alexandre Marcondes, morador do Alto da Lapa, bairro considerado nobre da Zona Oeste de São Paulo, acabava de sair de casa para ir até a padaria, quando percebeu que um carro da polícia estava passando devagar ao seu lado. O fato ocorrido no último domingo (02) foi denunciado à Ouvidoria da Polícia Militar nesta terça-feira (05)

Marcondes conta que assim que avistou, o carro notou que a viatura acelerou um pouco e logo em seguida um policial saiu do veículo gritando e apontando uma arma diretamente para o seu rosto. dinâmica foi registrada pelos circuitos de vídeo de residências próximas. O advogado conta, como mostrado no vídeo, que obedeceu de imediato a ordem de pôr suas mãos sobre a cabeça e virou-se de costas para ser revistado.

Quando questionou sobre a razão da abordagem, o policial respondeu apenas que ele estava em atitude suspeita. O advogado, que é negro, acredita que foi alvo de racismo por parte do policial. “Fiquei realmente com medo e nem lembro se era para colocar as mãos para cima ou para trás. Depois, eu disse que nunca tinha tido a experiência de ter uma arma apontada para o meu rosto e o policial disse que para tudo sempre tem uma primeira vez. Até me perguntou se eu preferia que fosse ele ou um bandido apontando a arma“, contou em entrevista ao Estadão.

Alexandre conta ainda que chegou a dar bom dia ao policial que estava dirigindo a viatura e se assustou quando o colega PM desse primeiro policial surgiu na rua apontando a arma e dando ordens. O advogado ainda conta que só depois de uma revista que ele considerou “bastante minuciosa”, o policial pediu os documentos de identificação de Marcondes.

“Depois que dei a minha carteira da OAB, ele mudou o tom e disse que eu estava em atitude suspeita porque viu um rapaz na frente e um casal de idosos atrás. Também considerou suspeito o fato de eu estar de máscara em ambiente aberto. No mesmo momento passaram duas mulheres de máscara e questionei se ele iria abordá-las também, mas ele respondeu que não. Eu sugeri então que o motivo da abordagem era minha cor e ele disse que eu estava sendo deselegante.” O policial apontou a câmera corporal que usava no uniforme, como justificando a sua ação.

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Marcondes confirma ter plena convicção que só foi abordado por ser negro e decidiu levar o caso à Corregedoria da Polícia Militar e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).Sei que moro em um bairro de classe média e experiências racistas são quase diárias (colocaram casca de banana na frente da casa da minha mãe, que mora em rua próxima), mas me deparar com uma arma apontada para o meu rosto foi assustador e fiquei pensando que minha filha poderia ter presenciado, já que a abordagem foi a menos de 50 metros de porta da minha casa.”

Outro momento do vídeo

Imagens no grupo de moradores

O advogado teve outra surpresa quando descobriu que as imagens da abordagem, captadas por uma câmera de monitoramento, passaram a circular no grupo de moradores pelo aplicativo WhatsApp. Um membro do grupo chegou a perguntar se alguém conhecia “aquele sujeito”. “Recebi o apoio de alguns moradores da rua criticando a abordagem, mas outros apoiaram a atuação policial e desaconselharam a adoção de medidas sob o argumento de que procurar a corregedoria implicaria em menos policiamento na rua e prejudicaria o coletivo, sugerindo o vitimismo de minha parte.”

A esposa de Marcondes, Tainá Nakamura, que também é advogada, o encorajou a denunciar publicamente o ocorrido. “A despeito de vários episódios constrangedores de racismo já vivenciados por meu marido e por minhas filhas desde que nos mudamos para o bairro há sete anos, nunca havíamos vivenciado algo tão violento quanto essa abordagem”, afirmou também em entrevista ao jornal paulista. “Diante do aumento de assaltos de casas no bairro, os moradores têm exigido das autoridades mais policiamento ostensivo e isso vem se traduzindo em abordagens mais violentas em pessoas consideradas suspeitas, no caso, pessoas negras, mal vestidas, ou seja, pessoas que não se adequam ao perfil dos moradores. Somos uma família de afrodescendentes vivendo em um bairro de classe média alta de São Paulo.”

Ouvidoria da PM

A denúncia foi encaminhada nesta terça-feira, (04/10) à Ouvidoria da Polícia Militar que, em nota, informou que o caso será apurado e que o vídeo foi encaminhado para a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e à Polícia Militar .

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