Por Tatiane Alves
Histórias de vida, música e literatura se misturam durante o Café Literário que reuniu 250 pessoas
Dois grandes nomes da música brasileira reunidos num bate-papo animado e para “muito além da música”, na noite desta quarta-feira (04), durante mais um Café Literário realizado pela Bienal do Livro. O encontro entre Elza Soares e Martinho da Vila foi mediado pelo jornalista Zeca Camargo, e integra a programação dos encontros que buscam abordar temas como política, racismo, feminismo e outros.
Aos 88 anos, Elza, a carioca criada no bairro de Água Santa, relembrou as diversas fases de sua vida e carreira, contando os altos e baixos que perpassam em sua biografia escrita por Zeca Camargo e lançada em 2018, pela editora Leya. Mulher, negra e de origem pobre, a obra traz sua história de forma definitiva e foi escrito, após uma série de encontros no apartamento da cantora. Segundo o autor, ela participou de todo o processo, mas foi uma responsabilidade enorme.
“Fiquei apavorado! É uma vida inteira contada. Uma história improvável que tinha tudo para dar errado. Então, eu tinha que honrar toda a vida dela. Para minha sorte, Elza é uma mãe. E eu tive o privilégio de acompanhá-la, ouvi-la e agora, fazer parte de sua enorme família”, conta Zeca entusiasmado.
Durante o bate-papo, ela agradeceu ao público por terem sido tão bons com ela ao longo dos anos. Ao ser perguntada se sua música tinha alcance nos mais jovens, sem papas na língua, ela comenta que a “garotada” deseja ouvir coisas boas e que não tem medo de passar a sua mensagem.
“A ‘garotada’ hoje está muito esperta. Eles não querem mais ouvir bobagens. A juventude não tem mais tempo a perder, a internet é muito forte e eu estou muito presente nesse ambiente. A minha boca está aqui. A minha voz é para dizer sobre o que se cala” diz convicta.
Ovacionada por uma plateia de, aproximadamente 250 pessoas, ela segue dizendo que não sabe se está mais fácil ou difícil falar, mas que segue falando. E se emocionou ao falar sobre as mulheres que sofrem violência doméstica calada. Com um bom-humor invejável, tirou risadas do público que estava atento e emocionado.
É no palco que a gente se transforma”Martinho da Vila
Já o sambista e compositor Martinho da Vila falou um pouco sobre seu livro “2018: Crônicas de um ano atípico” que traz histórias de caráter pessoal, mas que também aborda fatos como o assassinato de Marielle Franco, as eleições presidenciais e a derrota do Brasil na Copa do Mundo. Quando o assunto é música, ele disse:
“O palco é o melhor dos mundos. Às vezes, estamos tão mal e tristes, mas quando chegamos ao palco tudo passa. É no palco que a gente se transforma” relata.
Com uma força única e ancestral, ambos os artistas, responderam perguntas feitas pelo público, falaram sobre de tudo um pouco, inclusive, sobre o futuro da arte.
“Levar a arte sempre foi uma tarefa difícil. Atualmente, é ainda mais complicado em termos de produção e execução de manifestações artísticas. Eu sempre tento fazer arte, música, show e espetáculo. Minha preocupação é a arte. Eu não posso deixar de no meu trabalho colocar o meu pensamento, minhas opiniões, mas não sou muito de falar”, opina Martinho.
Ao fim, o jornalista e mediador do bate-papo fez o convite para que todos os presentes participassem da sessão de autógrafos que aconteceu ao lado do espaço por cerca de uma hora.
Ao relembrar as muitas memórias que teve ao longo das conversas com a cantora, uma em especial lhe chamou a atenção. Camargo conta que foi quando ela se expôs como mulher apaixonada.
“Foi nas histórias que ela contou já no fim do livro. Ela falou sobre amor quase como uma adolescente. Uma mulher quase de 70 anos, simplesmente, apaixonada… A mesma que era apaixonada aos 20, 30, 40 e aos 70. Ali, tive certeza. Realmente, tive a chance de vê-la toda revelada para mim. Foi muito bonito ver que o amor não tem idade”, confidenciou emocionado.
Novidades à vista
Zeca Camargo deixou escapar que o novo álbum de Elza Soares se chamará “Planeta Fome”, trará várias participações e já tem data de lançamento. Outra novidade é que a artista será homenageada no carnaval de 2020, pela Mocidade Independente de Padre Miguel.