Bando de Teatro Olodum: militância, resistência e representatividade em forma de arte

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Documentário "Bando, um filme de", que retrata a história dos 25 anos do Bando de Teatro Olodum — Foto: Marcio Lima


A história de significância do Bando na trajetórias dos artistas Leno Sacramento e Sérgio Laurentino é também um pouco da narrativa de mais de 200 atores negros baianos, isso porque, o grupo tem um papel social de transformar as narrativas de quem pisa naquele palco. O grupo já revelou grandes nomes do cenário artístico, dentre eles estão Lázaro Ramos, Érico Brás, Virgínia Rodrigues, Edvana Rodrigues, Valdinéia Soriano, Jorge Washington, Cássia Valle, Luciana Souza que mostram as suas potencialidades mundo a fora e serve de inspiração para crianças, jovens e adultos que vislumbram a carreira artística.

Os atos que podem ser vistos nos palcos dos teatros soteropolitanos, bem como em outros estados e até mesmos países, vão além das palavras, o Bando através da dança e da música traz para o público mensagens de resistência e militância. “Esse teatro que habita dentro de nós, é verdadeiro e tem o poder de transformação, o poder de ressignificar, de causar emoção e sensibilidade”, afirma o ator Ednaldo Muniz.

Enquanto o artista Sergio Laurentino, afirma que o grupo é o que Abdias Nascimento tentou fazer com o Teatro Experimental Negro criado em 1944. “A gente é o que Abdias tentou ser e é também esse norte, esse farol na questão do teatro negro no Brasil. O Bando de Teatro Olodum possibilita pensar sobre a questão do negro neste país, essa referência tem que ser visto como resistência”, relata.

Documentário “Bando, um filme de”, que retrata a história dos 25 anos do Bando de Teatro Olodum — Foto: Marcio Lima

Nessas três décadas de história, o Bando foi responsável por formar mais de 100 atores negros baianos, os transformando em grandes potenciais artísticas que estão mostrando o seu trabalho e sendo exemplo de representatividade para jovens que vislumbram a carreira artística. 

Como um espaço de denúncia, o Bando de Teatro Olodum fomenta a arte como combate ao racismo e desperta novos olhares e modos de fazer dramaturgia. 

“O Bando de Teatro Olodum questiona a narrativa hegemônica, a partir dos próprios olhares, narrativas e falas”, declara o diretor, roteirista, ator e dramaturgo, Rodrigo França.

Resgatando a ancestralidade brasileira, o Bando conta de forma singela e autêntica, a realidade da população soteropolitana. Sempre com humor e indignação em suas performances, o grupo pode ser considerado um marco na formação na arte, conforme aponta o ator, pós graduado em Artes Cênicas pela Universidade Estácio de Sá e cantor, Márcio Thadeu. “O Bando de Teatro Olodum é um marco e um farol. Ele continua apontando para o presente e para o futuro, com as possibilidades que a arte negra tem neste país. Como elemento constituinte da cultura, da identidade nacional, como formadora de opinião e como um espelho e reflexo para que as crianças, adolescentes e adultos negros se reconheçam e possam então, militar também na arte, na cultura e na educação”, pontua. 

Já para Rodrigo França, o grupo deve ser considerado uma referência geracional, pois, segundo ele, a primeira atuação de um ator negro no país, já é um marco. 

De uma geração, sim, acho muito perigoso esse lugar do marco. Eu sempre gosto de pensar nos nossos aspectos como continuidade, a primeira pessoa negra que pisou nesta terra e fez sua arte, pode se colocar como um marco. Mas, isso não tira a importância do Teatro Olodum, de uma relação geracional ter contribuído com o aspecto da arte do teatro negro”, revelou o ator. 

Rodrigo França – Foto: Robson Maia

Nos anos de 1990, pouco se via a arte negra sendo difundida e esse incômodo fizeram os diretores assinarem obras como “Essa É Nossa Praia” (1991), “Cabaré da Rrrraça” (1997), “Ó pai ó” (1992), “Erê para toda a vida – Xirê” (1996), dentre outras peças que dialogam com temas voltados para negritude, bem como intolerância religiosa; ideologia do branqueamento; genocídio. 

O Cabaré da Rrrrraça é um dos espetáculos importante para mim, foi um momento de crise do Bando Teatro Olodum,  foi quando eu pensei que tudo ia acabar e surgiu o Cabaré da Rrrraça, e aí foi um estouro”, afirma Leno Sacramento.   

A peça Cabaré da Rrraça além de transformar a vida do ator Leno Sacramento, também modificou o destino de uma espectadora, como conta o ator. “Eu tinha acabado de apresentar a peça, e uma menina entrou para me abraçar e me falou: olha, eu entrei na faculdade e me formei quando eu assistir o Cabaré da Rrrrraça e percebi que eu podia estudar e que podia vencer e ser alguém, que preto também pode ser alguém”, disse o ator que na ocasião não pôde deixar a emoção de lado.   

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Apesar de ter um importante papel na formação de novos atores negros na cena teatral, o Bando de Teatro Olodum enfrenta um dos maiores desafios para se manter diariamente, que é a falta de patrocínio. 

A gente nada muito contra a maré, a gente fala de genocídio nos palcos, homofobia, racismo, a gente defende os nossos. Por conta disso, a gente não tem patrocínio e sabemos que é por causa dessas questões. Temos um grupo com quase 30 pessoas e como faz para se manter isso sem patrocínio?”, indaga o integrante do Bando, Leno Sacramento.  

O artista Sergio Laurentino aponta outra grande dificuldade para manter o grupo em funcionamento. “A grande dificuldade para se manter essa companhia, é estar juntos. A gente está em um momento de grande queda das coisas que demoramos a conquistar neste país e que o Bando de Teatro Olodum tem uma grande parcela e responsabilidade nas conquistas trabalhistas, artísticas e de visualidade estética. O desafio é manter e continuar trabalhando, mas o mundo precisa entender que esse trabalho precisa ser pago, é isso não vem de agora, a pandemia só agravou isso”, conta o artista.

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