A atriz e criadora de conteúdo Pam Nascimento é o grande destaque no II Prêmio MicroInfluenciadores Digitais, onde recebe o prêmio na categoria Ativismo, evento que acontece próximo dia 18 de janeiro, em São Paulo. Nascida em Irecê, no sertão baiano, Pamela Nascimento se divide entre as funções de atriz, modelo e influenciadora digital. Em 2014, ganhou mais visibilidade quando participou do concurso Miss Blackpower Brasil, que premia o cabelo crespo mais bonito do Brasil. Se ela dá conta de tantas funções? “É super corrido, mas consigo fazer porque me entrego as três funções com muito amor e prazer”, afirma.
Participar do concurso não só a aproximou do público, como também a manteve mais forte em relação a sua identidade e ancestralidade. “O fato de eu estar nas ruas é um ato político em que venho denunciando esse sistema que oprime a nossa beleza natural” diz Pam.
Mãe solo de Luna, de 11 anos, Pam compartilha abertamente a relação com sua filha, trocando e motivando outras mães a repensar a maternidade partindo da educação social, racial e de empoderamento que irão garantir a autoestima dessas crianças.
Feminismo negro é outro assunto que Pam sempre buscar abordar em suas redes sociais. Utilizando dos estudos que fez sobre a intelectual, militante, ativista e pioneira do feminismo negro no Brasil, Lélia Gonzalez, a influencer ajuda mulheres que, como ela, durante muitos anos não teve consciência racial, a buscar e entender suas origens, dado o embranquecimento da história.
Para saber mais sobre da vida e da carreira dela, o Notícia Preta bateu um papo com a influenciadora e vocês podem conhecer mais a seguir.
Notícia Preta :Qual a importância de ganhar o prêmio na categoria Ativismo, um movimento tão presente hoje nas redes sociais?
Pam Nascimento: Ganhar um prêmio nessa categoria significa que está dando certo e que estou fazendo o bom uso da ferramenta, entregando, através das redes sociais, a minha mensagem. E que para além disso, me traz a sensação de dever cumprindo, que o meu propósito está alcançado pessoas, especialmente mulheres negras e, consequentemente, inspirando outras criadoras de conteúdo.
NP: Em que momento você percebeu que era uma ativista e que influenciava tantas pessoas?
PN: O crescimento da minha comunidade foi muito orgânica, quando a busca de ajuda começou a crescer, comecei a ter muito cuidado com o que falaria para aquelas pessoas, desde uma dica do creme até uma orientação para situação de racismo. Tive medo em me responsabilizar, já que me demandavam em busca de respostas. Foi aí que filtrei meu conteúdo, busquei estudar tudo que me propôs trazer para que, além de um conteúdo partindo da minha vivência, trouxesse de fato informações que fossem fazer diferença na vida dessas pessoas que apelidei carinhosamente de dengos de mainha.
NP: Quais são os comentários que você mais ouve de seus seguidores e como é a sua relação com eles?
PN: Eles sempre me definem com uma mulher inspiradora, acompanham meu trabalho e minha evolução, então, automaticamente, fazem parte disso e de algum modo se sentem pertencentes. Já acompanhei diversas transições capilares, inclusive um BC (Big Chop) via ligação de vídeo, orientação por gravidez precoce, decisões nas suas profissões. São sempre comentários me motivando a continuar e a dividir as experiências que trago nas redes.
NP: Como foi a sua construção em relação a sua imagem e a auto estima?
PN: Vixiiii, pesado! Comecei a fazer minha transição capilar na gravidez de Luninha, isso tem uns 11 anos. Foi um processo árduo, não podia colocar química no cabelo e então descobri a textura dele. A partir daí comecei a mudar o meu olhar para a imagem que tinha de mim. Então, fui esperando o cabelo crescer, naquela época não tinha essa coisa de BC (big chop), blogueiras orientando, muito menos produtos para nosso tipo de cabelo, mas eu resisti. Quando foi crescendo e eu me vendo com o cabelo só subindo, foram momentos únicos, quanto mais volumoso e alto ele estava, mais me achava linda, inconscientemente contrariando a indústria da beleza eurocêntrica. O mundo nos dizia, feias e nós fizemos eles engolirem seu racismo disfarçado de opiniões.
NP: Como começou sua carreira como de atriz? Quais são os planos para 2020?
PN: Desde que eu me conheço por humana. Os planos sempre foram ir para a cidade grande estudar. Aí veio Luninha, que retardou o processo mas não foi o suficiente para eu desistir, pelo contrário me deu mais força. Me mudei para capital ela tinha 7 meses. Trabalhei em várias coisas, telemarketing, panfletagem, recepção até que consegui em 2013 entrar em um curso livre de teatro. Fiz várias peças, e em seguida fundei o projeto sobre a ativista, feminista e intelectual Lélia Gonzalez onde me dedico desde 2014. Agora estamos trabalhando para levar o projeto Lélia para os palcos de todo o Brasil e para o audiovisual, que ainda não posso me aprofundar, mas já adianto que as mulheres pretas desse Brasil ficarão super orgulhosas.
NP: A estética negra feminina ainda é algo muito dolorido para muitas mulheres, por conta do racismo. Como você encara isso no dia a dia?
PN: Me reafirmando com meu corpo nas ruas e com o meu discurso na ponta da língua. O discurso para orientar e apoiar essas mulheres, não mais para reeducar uma população que insiste na democracia racial, a informação tá aí para todos, eu quero mesmo é focar em nós, povo preto e em nossas crianças.
NP: Por falar em crianças, você é mãe da Luna e nas suas redes sociais fica evidente a cumplicidade e amor de vocês duas. Qual é o maior legado que você deseja deixar para a sua filha e outras meninas negras?
PN: Desejo que essas crianças sejam donas dos seus corpos e decisões, que consigam andar nas ruas sendo unicamente elas, não por uma imposição por um determinado poder. Que saibam escolher seu caminhos partindo do lugar de uma mulher negra brasileira com consciência racial, com amor a sua estética, a sua origem e respeito a sua ancestralidade, é desse modo que educo Luninha e vem funcionando.
Muito Importante e ESSENCIAL este espaço. PARABÉNS. DEZINHA E JOAQUIM.