A Marcha Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta, tradicional evento do Fórum Social Mundial (FSM) que reúne ativistas dos mais diversos campos em uma caminhada animada e colorida, expondo as pautas de reivindicação dos movimentos que integram o evento, ocorreu na noite desta quarta-feira (25), no centro de Porto Alegre.
O fórum foi criado em 2001, em Porto Alegre, para contrapor o Fórum Econômico Mundial, que ocorre anualmente em Davos, na Suíça. A ideia é debater pautas sociais, de inclusão, diversidade e sustentabilidade.
Desde então, a maioria das edições ocorreu em Porto Alegre, mas também já foram organizadas edições em Mumbai (Índia, 2004), em Nairóbi (Quênia, 2007), em Dakar (Senegal, 2011), em Túnis (Tunísia, 2015) e em outras cidades brasileiras, como Belém (2008) e Salvador (2018).
A diretora do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, Kátia Marko, explica que a maioria das atividades do fórum é autogestionada, ou seja, os próprios movimentos e entidades organizam os debates, oficinas, intervenções artísticas, rodas de conversa e atividades culturais.
Kátia destaca que, desde 2016, o fórum perdeu força e tamanho, mas, em Porto Alegre, continuou a ocorrer o Fórum Social das Resistências, que foi virtual nos dois últimos anos, por causa da pandemia de covid-19. Agora, com a mudança de governo e a situação da pandemia mais controlada, os movimentos sociais estão em festa.
“Neste momento, a gente retomar ele [Fórum Social das Resistências] aqui dá uma alegria, aquece o coração de estar reencontrando as pessoas. Principalmente nesse momento em que estamos retomando o Brasil e as políticas públicas. Tu sente que as pessoas estão resgatando essa esperança. Tem muita coisa para ser feita, não vai ser fácil, mas agora nós temos portas e possibilidades de realmente construir esse outro mundo que a gente tanto vem lutando e querendo desde o primeiro fórum, em 2001”, explica.
De acordo com Kátia, o balanço preliminar do Fórum Social Mundial tinha 1.500 pessoas inscritas e 170 atividades autogestionadas programadas, além de sete grandes mesas de debates organizadas pelo comitê facilitador do evento.
Ativistas
Na marcha, foi possível ver as mais diversas pautas sociais, desde questões globais, como a luta da Marcha Mundial das Mulheres, até locais como o movimento contra a concessão dos parques públicos de Porto Alegre. Fórum Palestina Livre, visibilidade LGBTQIA+, trabalhadores rurais, indígenas, movimento negro, sindicatos e partidos políticos de esquerda, entre outros, se uniram na caminhada.
Animada por uma pequena bateria de escola de samba no abre-alas e pelo grupo Maracatu Truvão na parte final do cortejo, a marcha parou algumas vezes para gritar “sem anistia”, em referência aos crimes atribuídos ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos vândalos que fizeram o ataque golpista às sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8.
Uma das pessoas que carregou a faixa do Fórum Mundial Social foi a líder indígena Kantê Kaingang. Ela diz que desde os primeiros fóruns os povos originários viram no evento um espaço importante de diálogo e união.
“O fórum para nós indígenas é muito bom, é o encontro dos filhos da Terra, para nós se unir positivamente, para terminar com a diferenças. O nosso presidente, com muito trabalho que trouxemos ele de volta. Enquanto aquele que foi embora queria matar o ser humano, queria matar a Mãe Terra, tentou matar os meus parentes. Ele [Bolsonaro] tava apoiando essas mineradoras. Mercúrio, veneno, tudo isso. Mas graças a Deus colocamos de volta nosso irmão Lula”, afirma.
Espaço da democracia
Militante da ONG LGBTQIA+ Nuances, Célio Golin considera que o fórum se consolidou internacionalmente como um espaço da democracia, no qual é possível discutir temas como política de inclusão social e de participação da população.
“Para nós, da população LGBT, é muito importante porque é o espaço onde nós podemos disputar, junto com os outros movimentos, essa visibilidade, esse empoderamento. Eu acho que a democracia, para ser representativa, precisa estar contemplando todos os públicos e nós, LGBTs, historicamente participamos do Fórum Social Mundial e precisamos retomar o Fórum Social Mundial no seu protagonismo que teve no início”.
Para a ativista da saúde mental, feminista, negra, periférica e do hip-hop Solange Gonçalves Luciano, o fórum proporciona visibilidade para temas pouco debatidos.
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“É importante porque só assim os invisíveis se fazem visíveis, mesmo que queiram nos tornar invisíveis. Eu vim porque eu queria respirar vida. Se a gente ocupar o nosso lugar no sentido de não ser o lugar que as outras pessoas tentam nos colocar, a gente se vê e sente que faz bem. A gente tem que se colocar, para encher aquele lugar onde queremos estar”.
Desde a primeira edição
Participante do fórum desde a primeira edição, o serigrafista Marcelo Roncato diz que atua em vários movimentos, como o contra a privatização dos parques públicos, a agroecologia e o camponês. Para ele, o fórum enriquece todos os movimentos.
“É uma troca de experiência entre várias experiências do Brasil e até da América. Fortalece os movimentos daqui, porque tu já identifica que essas pautas não são só da cidade. Elas ultrapassam os estados e até países, então é muito importante tu trocar ideias e ver que tem experiências mais avançadas”.
O Fórum Social Mundial vai até sábado (28). A programação completa está disponível no site do evento.
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