Ativista Pâmela Carvalho denuncia caso de racismo que sofreu em loja no Centro do Rio

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A produtora cultural e ativista Pâmela Carvalho postou um vídeo em suas redes sociais nesta terça-feira (15), denunciando um caso de racismo que sofreu em uma loja no Saara, no Centro do Rio. Nas imagens, gravadas por ela, a atendente pergunta sobre como Pâmela lava o cabelo e ainda fala que ele “parece de leão”. O caso foi registrado no site da Polícia Civil, tipificado como injúria racial.

Pâmela Carvalho é historiadora e coordenadora do Redes da Maré. Ela estava no Centro da cidade para uma reunião e aproveitou para comprar um adereço que precisava no comércio local. Segundo a produtora, ela entrou na loja, cumprimentou a assistente e sentiu que estava sendo observada.

“Percebi que ela estava me olhando muito, ela se levantou pra me acompanhar, ver o que eu estava fazendo. Eu estava com uma mochila nas costas, sem nenhuma bolsa na mão, onde eu pudesse esconder algum objeto. Mas ela fez questão de continuar ali próxima de mim, com um olhar de vigilância, mas também de curiosidade, estranhamento”, contou ela com exclusividade, ao Notícia Preta.

Neste momento ela conta que percebeu que a atendente estava muito perto, e decidiu cumprimentá-la novamente. Foi neste momento, segundo Pâmela, que a atendente falou sobre seu cabelo. “Muito diferente seu cabelo, né?!”, disse a mulher.

Pâmela não respondeu e continuou procurando o que precisava. De acordo com a produtora, a atendente insistiu com frases como, “é muito estranho, é muito cabelo pra uma pessoa só” e em seguida fez comentários sobre o nariz dela. “É muito redondo, ele parece uma bola”. Neste momento, ela conta que se sentiu constrangida e triste, e por isso decidiu começar a filmar.

No vídeo abaixo é possível ver a atendente questionando como ela lava o cabelo e dizendo que “parece de leão”.

No registro é possível ouvir Pâmela Carvalho respondendo que lava seu cabelo normal, como qualquer outra pessoa. Neste momento, ela conta que para de gravar pois já estava se sentindo muito ferida psicologicamente. Mas logo em seguida, decidiu confrontar a atendente.

“Isso que a senhora está fazendo é racismo, desde que entrei na loja a senhora está me seguindo, está falando do meu cabelo, está me olhando com olhar julgador, de nojo, como se eu fosse um animal, tá me invadindo perguntando como lavo meu cabelo, falando do meu nariz, que pareço um leão, isso é racismo, se a senhora continuar irei chamar a polícia”, contou Pâmela.

De acordo com a produtora, neste momento a atendente se assustou pediu desculpas e disse não queria ofendê-la. Pâmela decidiu não chamar a polícia, deixou os objetos, e foi embora da loja. Na legenda do vídeo a produtora explica que não chamou a polícia no momento por estar com pressa, e acreditar que “às vezes o constrangimento funciona melhor do que me violentar falando com um agente não preparado pra esse tipo de situação como é o caso dos que costumam atender a região”.

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Na exclusiva com o NP, ela afirmou já ter sofrido muitos casos de racismo e ter tido reações diferentes. Já chamou a polícia no momento, já fez registro depois, mas ultimamente costumar usar a “pedagogia do constrangimento” em casos como este, que segundo ela significa “constranger a pessoa e mostrar pra ela que o que ela está fazendo é crime”. Ela diz que procura sempre uma saída que não se sinta mais violada do que já foi.

A produtora cultural e historiadora afirma que nesta situação, já teve experiências ruins com agentes do Estado, que mesmo por perto, não sabem como agir em casos de racismo. Ela conta que já aconteceu de agentes negaram acompanhá-la para registrar o caso. O outro motivo para não chamar a polícia naquele momento, segundo Pâmela, tem haver com o fato da mulher também sofrer racismo. “É racializada, é uma mulher de origem asiática“.

Ela entende que os processos migratórios para o Brasil não incluiu a discussão de raça. “Existem pessoas racializadas como é o caso dessa senhora, que sofrem também com o racismo, que sofrem com piadas racistas e xenofóbicas”, disse ela lembrando de casos de racismos com orientais, principalmente na época da Covid-19. “Tentei ser solidária, praticar a empatia”, disse Pâmela.

Ela afirma que irá registrar o caso na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Ela acredita que registrando o caso, os dados ajudarão a formular políticas públicas contra o racismo. Já a decisão de expor o caso nas redes sociais, aconteceu segundo Pâmela, para provar que “o racismo existe”, e para dar visibilidade a tantos casos como este.

Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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