Após liminar proibindo operações nas favelas do Rio durante pandemia, letalidade policial cai 73% no estado

operacao-policial-favela.jpg
Foto:  Leonardo Wen/Reprodução

O estado do Rio de Janeiro registrou em junho deste ano o menor número de pessoas assassinadas pela polícia em um mês, desde dezembro de 2015. O resultado é consequência de uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal, que impede a realização de operações policiais em comunidades fluminenses durante a pandemia do covid-19.

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam que o Rio teve uma queda de 73% nas mortes cometidas por policiais, foram 34 casos em junho deste ano, contra os 129 no mês anterior, maio.

No mesmo período durante a quarentena também houve reduções de outros índices de criminalidade, como os de homicídio doloso. Segundo especialistas, este resultado mostra que a diminuição da letalidade policial não implica um aumento da violência.

“Os números de junho surpreenderam. Não imaginávamos uma redução nessa magnitude. Isso mostra que a intervenção da Suprema Corte foi fundamental. Em abril e maio já vivíamos o isolamento social, mas o padrão de mortes por agentes do estado continuava alto. Para nós, a queda ocorreu devido à liminar do STF”, comenta afirma a cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Observatório da Segurança RJ, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), em entrevista ao jornal O Dia.

Quando comparado os meses de junho e maio, percebe-se uma redução no número de assassinatos non último mês, caiu 6% (de 273 para 256) e os roubos de cargas diminuíram 11% (de 455 para 404). Já os roubos de rua foram em direção contrária: cresceram 15%, passando de 3.814 em maio para 4.385 em junho — ainda assim bem abaixo dos 9.551 do mesmo mês de 2019.

Em entrevista o jornal O Dia o sociólogo do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, Ignácio Cano, disse acreditar que o impacto da determinação do STF poderia ser ainda maior se, de fato, ações desse tipo tivessem sido interrompidas: “Na visão simplista do governador (Wilson Witzel), matar acaba com crime. Há décadas sabemos que não é assim. Os dados do ISP podem ser complementados por um estudo recente do Ministério Público do Rio que mostrou que as áreas de batalhões com maior letalidade não tiveram redução de violência”, destaca o pesquisador.

Em nota a Polícia Militar declara que a decisão do STF “pode ter influenciado para a queda das mortes por intervenção de agentes do Estado”, mas ressalta que há “um incremento de disputas territoriais por grupos criminosos que têm ceifado vidas inocentes, além da expansão de barricadas em comunidades”, diz a nota.

Deixe uma resposta

scroll to top