Após 4 anos, movimentos cobram Supervia pela morte de Joana Bonifácio: “Se é recorrente não é acidente”

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Neste sábado (24) completam-se quatro anos da morte de Joana Bonifácio, a jovem de 19 anos que teve uma das pernas presa na porta do vagão de um trem da SuperVia, no Rio de Janeiro. Joana caiu no vão entre o trem e a plataforma, ao tentar embarcar no trem, na estação de Coelho da Rocha. O seu corpo foi arrastado por cerca de 20 metros e retirado dos trilhos somente 8 horas depois do acontecido. A Supervia não se responsabiliza pelo caso e afirma que a vítima se desequilibrou após ignorar o aviso sonoro do fechamento de portas e tentar embarcar em uma composição em movimento.

Joana estava a caminho da Universidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro (UEZO), onde cursava o quarto período de ciências biológicas. Sendo moradora da Baixada Fluminense, a jovem percorria cerca de 100 quilômetros para ir e voltar da faculdade.

A graduação era um sonho que estava sendo realizado não apenas por ela, mas uma vitória coletiva de toda família, que foi interrompida. “Ela lutou muito pra conseguir. Fazia dois pré-vestibulares e estudava a semana toda. Era muito esforçada, sonhadora, queria mudar o mundo. Era meu orgulho aquela pretinha! A palavra que define a Joana é amor, puro amor!”, relembra Teresa Cristina Bonifácio, mãe de Joana.

Joana e a família em comemoração I Foto: Divulgação (família)

Ao longo desses anos, movimentos e organizações da sociedade civil elaboraram eventos para defender a memória de Joana e denunciar negligências vividas nos transportes públicos. Com o apoio de entidades como “Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial”, “Instituto Marielle Franco” e “Casa Fluminense”, neste ano, a família organizou uma agenda de lives para debater a reparação às violências raciais no contexto internacional. 

A programação teve início na sexta-feira (23) e será finalizada neste sábado (24) com um bate papo entre Anielle Franco, Vilma Reis e Teresa Cristina Bonifácio, mãe de Joana. O evento começa às 15h e será transmitido pelo Facebook da Casa Fluminense e no canal do Youtube do Instituto Marielle Franco. 

Livro sobre desigualdade e segurança nos trens é lançado em memória de Joana 

O caso motivou a elaboração do livro “Não Foi Em Vão”, lançado em outubro de 2019. A  obra conta a história de Joana e traz dados sobre a dimensão e o perfil socioeconômico de quem está sendo morto no transporte ferroviário do Rio. Através do diagnóstico é possível entender que o racismo estrutural também se manifesta através da mobilidade. Organizada pela Casa Fluminense, a pesquisa foi construída por João Pedro Martins, Rafaela Albergaria e Vitor Mihessen. 

evento de lançamento do livro Não Foi em Vão em Coelho da Rocha
Evento de lançamento do livro “Não Foi em Vão” em Coelho da Rocha (RJ) I Foto: Casa Fluminense

Rafaela é assistente social e prima da vítima. Após a morte de Joana, ela foi a responsável pela mobilização de um ato na estação de Coelho da Rocha para denunciar o perigo que os trens ofereciam à população. A partir disso, ela conheceu outros casos parecidos como o de Joana e refletir sobre as condições dos transportes ferroviários. 

“As pessoas se lesionam, às vezes se machucam gravemente por causa das condições do trem. Porque o vão é muito longe da plataforma, porque tem um desnível de altura, porque as portas não fecham ou porque as portas não abrem. Todo dia você vê alguém passando mal dentro do trem por causa da superlotação ou alguém se machucando por causa da estrutura mesmo. Perder a Joana desse jeito me fez desnaturalizar aquilo que a gente vivenciava todo dia e que acaba sendo naturalizado”, conta Rafaela.

Dados do Instituto de Segurança Pública, levantados pela Casa Fluminense, para a formulação do livro “Não foi em vão” revelam que, entre os anos de 2008 e 2018, ocorreram pelo menos 368 homicídios culposos por atropelamento rodoviário nos ramais e nas estações de trem do Rio. Destes, 68% eram pessoas negras. Trata-se de mais de uma morte por semana. 

“O ramal Belford Roxo é o pior que tem. A Supervia acha que está fazendo um favor pra gente. É uma falta de respeito com a vida humana. A gente que é negro, pobre e da Baixada Fluminense é muito difícil conquistar as coisas. Foi uma luta pra ela conseguir e foi morta brutalmente por negligência. É revoltante!”, desabafa a mãe da vítima, Teresa Cristina.

Em nota, a SuperVia disse que se solidariza com familiares da vítima. “A empresa informa que o Ministério Público opinou pelo arquivamento do Inquérito Policial, em 8 de outubro de 2019. O Juiz da 1ª Vara Criminal de São João de Meriti acolheu o pedido do Ministério Público em 31 de outubro de 2019”.

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