Anielle Franco critica protagonismo branco em produção global sobre sua irmã: “Não esperem mais nenhuma mulher negra ser assassinada para falarem sobre ela”

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Anielle Franco

A fala de Anielle Franco  após a exibição somente para convidados dos dois primeiros episódios de um documentário sobre a sua irmã, nesta terça-feira (10), criticou a ausência de mulheres negras na obra ficcional que está sendo produzida pela Globo. 

A presidente do Instituto Marielle Franco abriu sua fala criticando a branquitude que quer protagonizar as histórias dos negros: “As pessoas brancas que não abrem portas para as negras chegam antes da gente só porque não conseguimos chegar. Se não, nós chegaríamos primeiro. Vocês que chegam em alguns lugares onde as mulheres negras não conseguem chegar, não esperem mais nenhuma mulher negra ser assassinada, com quatro tiros na cabeça, para falarem sobre ela”, disse Anielle.

A irmã de vereadora brutalmente executada há dois anos ressaltou ainda que as duas produções do Globoplay sobre Marielle, o documentário e a série ficcional, já foram apresentadas à família prontas e aconteceriam independentemente da decisão de seus familiares: “A crítica da composição das mulheres negras foi minha. Foi algo que eu solicitei mas quando a Antônia (Pellegrino, roteirista das obras) chega com o projeto da série para a família ele pra já vem amarrado e assinado”, ressalta.

“Será que se a Marielle não tivesse sido covardemente assassinada há 2 anos nós estaríamos aqui hoje, num evento da Globoplay, assistindo a ela num telão?”, indagou Anielle. 

Roteirista branca desconsidera a importância de negros em produção

A série criada pela roteirista Antônia Pellegrino foi alvo de críticas por ser encabeçada por três pessoas brancas: ela, José Padilha (diretor famoso pela produção do filme Tropa de Elite (2007), que transformou policiais assassinos em heróis nacionais) e George Moura. “É revoltante mais uma vez ver a branquitude disfarçar de boas intenções a apropriação da imagem de uma mulher negra lésbica, favelada, mãe, filha, irmã e esposa”, diz trecho de carta assinada por profissionais negros do audiovisual e das artes no geral.

Na sequência de escolhas infelizes da roteirista, Antônia declarou ainda que pensou em ter um diretor negro no projeto mas não achou nenhum brasileiro com o “peso” necessário. “Se tivesse um Spike Lee, uma Ava DuVernay…”, comentou, citando o diretor de Malcolm X (1992) e produtor da série Ela Quer Tudo (Netflix, 2017) e a criadora de Selma (2014) e de Olhos que Condenam (Netflix), desconsiderando assim todos os profissionais negros presentes no cinema nacional.

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