Taxa de fecundidade das mulheres brasileiras atinge mínimo histórico de 1,55 filho em 2022, mas mulheres pretas e pardas ainda tem mais filhos que a média nacional.
Ser ou não ser mãe? E se sim, quando ser? Essas são perguntas que acompanham a grande maioria das mulheres e preenche bom tempo de suas vidas na decisão de exercer ou não a maternidade. Segundo o Censo demográfico realizado pelo IBGE em 2022 e divulgado na última sexta-feira (27) , as mulheres brasileiras tem optado por adiar essa decisão, dados revelam que a taxa de fecundidade, atingiu o mínimo histórico de 1,55 filho por mulher, o que revela uma queda de 75,3% se comparado ao ano de 1960, onde era de 6,28 filhos.
Desde 2010, a taxa de fecundidade brasileira está abaixo da chamada taxa de reposição populacional, ou seja, da média de filhos por mulher necessária para manter a população estável, que é de 2,1. Comparado a outros países, o Brasil está atrás da Nigéria (4,6 filhos por mulher), França (1,8) e Estados Unidos (1,7), mas se mantém na frente da Argentina (1,5), Chile (1,3) e Itália (1,2).
A mudança na diminuição no número de filhos é acompanhada por um aumento na idade média de quando essas mulheres decidem maternar. No ano 2000, a média era de 26,3 anos e em 2022 essa média teve um acréscimo de cerca de 6,8%, agora a média é de 28,1 anos.
As mulheres estão esperando mais tempo para se tornarem mães e de acordo com o IBGE, muitas chegam ao fim da idade reprodutiva, considerada geralmente até os 49 anos, sem ter tido filhos. Nos anos 2000 o percentual era de 10,0% de mulheres nesses casos, em 2022 esse número subiu para 16,1%.
O número de mulheres sem filhos também aumento ao longo dos anos, a pesquisa revela que 16,1% das mulheres de 50 a 59 anos em 2022 não possuem filhos. Nos anos 2000 essa número era 10%, e em 2010, 11,8%.
Muitos fatores levam essa diminuição no número de mulheres com filhos no país, como o maior acesso à educação, inserção no mercado de trabalho, custo de vida elevado e mudanças culturais. Segundo a Médica de saúde mental e qualidade de vida no trabalho, especialista em maternidade e carreira e economia do cuidado, Simone Souza:
´´A gente vive uma revolução silenciosa no que diz respeito as decisões reprodutivas, falando especificamente do Brasil. Essa queda alta na taxa de fecundidade não é por acaso, nas últimas décadas a gente vem passando por transformações sociais, econômicas e culturais que acabaram refletindo nas decisões de ter ou não filhos ou quantos filhos cada mulher vai ter. Eu destaco 3 fatores que são mais importantes nesse cenário: o primeiro foi o aumento ao acesso a educação, o aumento da presença feminina no mercado de trabalho e a percepção do custo crescente da criação dos filhos.´´ afirmou Simone.

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Recortes raciais, regionais, educacionais e de crenças
As diferenças são ainda mais notadas quando o IBGE compara as mulheres em diferentes contextos sociais, o que revela como fatores socioeconômicos e culturais influenciam diretamente as decisões sobre fertilidade e a decisão de se tornar mãe.
Diferenças raciais
Mulheres pretas e pardas tem taxas acima da média nacional, 1,6 e 1,7 filhos respectivamente, já mulheres amarelas (de origem asiática) têm menor taxa de fecundidade, sendo 1,2 filhos por mulher. Logo em seguida, as mulheres brancas aparecem, com 1,4 filhos por mulher.
As mulheres indígenas ainda estão acima da taxa de reposição nacional, com 2,8 filhos por mulher.
A idade média da fecundidade subiu entre todos os grupos, sendo de 29 anos para as brancas, 27,8 entre as pretas e 27,6 entre as pardas.
´´A grande diferença na taxa de fecundidade quando fazemos recortes raciais e socioeconômicos está relacionado a estruturas de desigualdade presente no país. As mulheres brancas tem em média maior acesso a educação formal, maior acesso a serviços de saúde e a informação sobre planejamento familiar e métodos contraceptivos isso favorece as decisões mais autônomas do que diz respeito a reprodução. Conseguindo assim ter ferramentas para decidir de forma mais pragmática. Além disso o racismo estrutural faz com que os corpos femininos de mulheres negras e indígenas sejam vistos de formas diferentes comparado ao de mulheres brancas. Nem podemos dizer que essa diferença nas taxas de fecundidade são uma escolha, a socialização, as condições de desigualdade que vão pautar o exercício desse maternar.´´ afirma Simone Souza.
Diferenças Regionais
Quando analisado de forma regional, a região Sudeste do país foi a que mais representou a queda na taxa de fecundidade. Em 2022, era de 1,41 filhos por mulher e em 1960 era 6,34 filhos.
Na Região Sul, que tinha a menor taxa de fecundidade em 1960 (5,89 filhos por mulher), a taxa em 2022 ficou em 1,50, também abaixo da média nacional.
No Centro-Oeste, que tinha taxa de 6,74 em 1960. Em 2022, a taxa era de 1,64.
No Norte do Brasil a taxa passou de 8,56 em 1960 para 1,89, em 2022, a mais alta do país.
O Nordeste foi a única região a apresentar alta de 1960 7,39 filhos por mulher para 1970, 7,53. Em 2022, ficou em 1,60, abaixo do Centro-Oeste.
Entre os estados, Roraima é o único com taxa acima da reposição populacional: 2,19 filhos por mulher. Na sequência aparecem Amazonas 2,08 e Acre 1,90.
Entre aqueles com menores taxas, destacam-se o Rio de Janeiro 1,35, Distrito Federal 1,38 e São Paulo 1,39.
Diferenças entre religiões
De acordo com a pesquisa, entre as religiões, as mulheres evangélicas são as que apresentam maior taxa de fecundidade, 1,74 filhos por mulher. Já as mulheres espíritas apresentam o menor índice, 1,01 filhos por mulher.
As seguidoras da umbanda e candomblé representam 1,25. As mulheres de outras religiosidades (1,39), sem religião 1,47 e as católicas 1,49 tiveram taxas abaixo da média nacional.
Diferenças entre escolaridade
Os dados mostram que o aumento da escolarização tem relação com a queda da taxa de fecundidade. Mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto em média tem 2,01 filhos. Enquanto aquelas com ensino superior tem 1,19 filhos, é o que diz o Censo 2022.
As demais faixas de escolaridade apresentam as seguintes taxas: ensino fundamental completou ou médio incompleto, com 1,89 filhos por mulher, e ensino médio completo ou superior incompleto com taxa de 1,42.
Em 2022, a idade média de fecundidade das mulheres sem instrução ou com ensino fundamental incompleto foi de 26,7 anos. Já a idade média para aquelas com nível superior completo foi de 30,7 anos.
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