A opressão como zona de conforto

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Por Marina Lopes

Começo esse texto pensando em quais palavras escolher. Para mim, escrever nem é algo tão difícil, normalmente é prazeroso ou terapêutico. A minha preocupação é que o conteúdo se torne algo banalizado, que não vá tocar exatamente quem precisa ser tocado. Afinal, é fácil banalizar o que eu digo, se você não está no lugar de oprimido, mas sim de opressor. Enquanto mulher preta, acordo todo dia pensando de que forma o racismo diário irá me atingir. Esses pensamentos são, tanto no sentido macro, como no sentido micro da opressão: desde um olhar torto para o meu cabelo, até as notícias que evidenciam mais um jovem preto sendo morto pela polícia. 

Foto: Pixabay

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De acordo com dados divulgados pelo Atlas da Violência de 2021, 77% dos homicídios ocorridos no Brasil, são de pessoas pretas. Enquanto isso, campanhas são promovidas nas redes sociais dizendo que “Vidas negras importam”. Será que importam mesmo? Na verdade, a pergunta é: o que vai mudar na sua vida se você deixar de ser uma pessoa racista? E quando eu falo de pessoa racista, não é só aquela que mata, violenta corpos pretos. Me refiro àquelas pessoas que não percebem (ou se recusam a perceber) suas discriminações nos pequenos atos diários, porque sim, isso também leva à morte.  Deixo a reflexão para vocês, afinal não tenho obrigação nenhuma de educar quem oprime.  

A opressão para o branco, está muito em uma zona de conforto, é uma posição privilegiada para ele. A luta antirracista só termina quando o branco deixar de ser ponto de referência social.  Nós, pretos, queremos poder contar nossas próprias histórias, sob os nossos pontos de vista. Queremos poder retomar nossas culturas e nos orgulhar dela. Mesmo tendo “lugar de fala” para muitos assuntos do universo afro, precisamos que toda uma sociedade dialogue conosco.

Hoje, eu queria estar aqui, escrevendo sobre quaisquer outros assuntos que eu também sou capaz de falar: teatro, dança, música (também estou inserida nesses universos). Mas o preto fala sobre o racismo pela necessidade de ser falado, a verdade é que nós temos muito além a oferecer. Quero deixar aqui, que acho de extrema importância tratar do assunto, visto que em quase todos os meios em que me encontro a temática é colocada para debaixo do tapete. Entendo meu papel de representatividade nos lugares onde a branquitude predomina, mas também acredito que racismo não deve ser só assunto de preto. Até porque quem oprime, tem outra cor.

Marina Lopes é jornalista e escritora

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