O rodopio das saias das baianas que desfilam nas escolas de samba foi, por muito tempo, uma forma de proteger os integrantes das agremiações durante o desfile. Mas na década de 30 quem rodava a baiana eram homens, os únicos a poder integrar a ala. De acordo com a jornalista e julgadora de carnaval há quase 20 anos, Salete Lisboa, esta era uma forma de defender a agremiação durante os desfiles: “Todo movimento cultural negro, de samba, musical, a maioria proveniente da nossa mãe África, foi repreendido pelas autoridades assim que chegaram no Brasil. Foi assim, por exemplo, que teve início a ala das baianas. Eram homens que rodopiavam com navalhas na ponta da saia para proteger quem estava dentro da corda durante o desfile”, explica a julgadora.
Mesmo sendo composta por homens, a ala a foi criada em homenagem às “tias baianas”, que abrigavam os sambistas em suas casas, quintais e terreiros, quando o gênero era perseguido. Naquela época, ser sambista era pior que ser comunista e ser mulher de samba era uma raridade.
“Tudo começou com Tia Ciata, na Praça Onze. Como o samba era marginalizado, a polícia ia em cima dos sambistas, e as pessoas achavam que aquele era um som de agressividade. Criou-se então, na Praça Onze, um espaço onde todos poderiam fazer não só o samba, mas também a dança de roda. Assim o local se transformava em um espaço de resistência”, explica Salete Lisboa.
As mulheres e a religiosidade afro-brasileira, na figura das Yabás, tiveram um grande papel na resistência do samba. Mesmo assim, Salete comenta sobre existir, no início do século XX, uma certa repulsa por parte dos homens em ter mulheres em papéis de destaque: “O samba não era machista, toda essa época era machista. A primeira compositora de samba enredo foi a Dona Ivone Lara que levou anos para ser reconhecida, deveria ter sido mais rápido. Tinham escolas de samba que não admitiam mulheres na ala dos compositores”, explica a julgadora.
Já no grupo dos compositores não era possível ter mulheres, elas reinavam na ala das baianas. Já sem as navalhas na barra da saia e composta, preferencialmente, por senhoras vestidas com roupas que remetem às antigas ‘tias’, esta ala é considerada como uma das mais importantes de uma escola de samba. Até os anos 1940 e 50 ainda era possível ainda encontrar homens que desfilassem vestidos de baianas, prática que passou a ser proibida no Rio de Janeiro nos anos 1990. A partir de 2006, entretanto, a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro liberou para o Grupo de acesso a participação de homens na ala.