Mulher, negra, enfermeira, assistente social, sambista. Em 2021 comemora-se o centenário de Dona Ivone Lara. Nascida em 1921, Yvonne Lara da Costa era filha da costureira e cantora Emerentina Bento da Silva e João da Silva Lara, mecânico de bicicleta e violonista de sete corda. Dona Ivone ficou órfã adolescente, e foi com o tio que aprendeu a tocar cavaquinho.
Compositora de grandes sucessos, seus sambas foram eternizados nas vozes de grandes artistas brasileiros, como Maria Bethânia, Gal Costa, Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Sorriso Negro, seu album mais emblemático, lançado em 1981, foi esmiuçado e sua analise transformada em livro, “Dona Ivone Lara – Sorriso Negro”, da coleção o “Livro do Disco”, de Mila Burns. A autora conta que o álbum reflete sobre as mudanças que ocorriam no Brasil da época.
Dona Ivone Lara, matriarca do Samba
Em 1945, Dona Ivone começou a frequentar a Escola de Samba Prazer da Serrinha, em Madureira. E mais tarde, a Escola Império Serrano, onde desfilou na ala das baianas. Nessa época compôs muitos sambas e partidos-altos, que não podia apresentar como se fossem dela, pois o preconceito vigente não favorecia a aceitação de uma mulher sambista. A Liberdade, o empoderamento da mulher e orgulho negro são alguns dos assuntos que cantam as letras da sambista carioca. Dona Ivone Lara, conhecida como a dama do samba, foi consagrada com Os Cinco Bailes da História do Rio, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da escola de samba.
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Além de toda contribuição da artista para musica brasileira e cultura do samba no pais, Dona Ivone Lara foi um expoente importante na luta anti-manicomial. Formada em enfermagem e assistência social, trabalhou ao lado da psiquiatra Nise da Silveira na humanização dos tratamentos de doentes mentais. Especializada em terapia ocupacional, levou a musica para dentro do Instituto de Psiquiatria do Engenho de Dentro. A iniciativa, que contava com o patrocínio da sua rede de contatos enquanto sambista, virou oficina de Musica e mais tarde o bloco de carnaval “Loucura Suburbana“, que existe até hoje.
Centenário de Dona Ivone Lara é controverso
Lucas Nobile, na biografia Dona Ivone Lara: a Primeira Dama do Samba, onde escreve sobre a sambista, afirma que Dona Emerentina Bento da Silva, mãe de Ivone, aumentou a idade da filha em um ano, para que fosse admitida na Escola Municipal Orsina da Fonseca, em 1932. Naquele ano, Ivone ainda não tinha a idade mínima de ingresso, que era de onze anos. Apesar disso consta em seus documentos oficias, a data de nascimento como sendo 13 de abril de 1921. Nesse ano de 2021, comemora-se então o centenário de Dona Ivone Lara, matriarca do samba.
Dona Ivone Lara morreu em 16 de abril de 2018 em consequência de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória. Em comemoração ao centenário do seu nascimento, o Teatro Rival Refit “Abrindo Portas” reunirá Xande de Pilares, Dudu Nobre, Dandara Mariana, Bruno Castro e André Lara que cantarão sucessos da compositora e também canções nunca gravadas.
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