O etanol presente nas bebidas alcoólicas e o vendido como combustível nos postos compartilham a mesma fórmula química (C₂H₆O), porém são produtos totalmente distintos em termos de segurança. A diferença crucial está no processo de fabricação, no grau de pureza e na presença de aditivos tóxicos no álcool combustível.
Conforme explicou Indianara Brandão, médica hematologista da Faculdade de Medicina do ABC e diretora da Clínica First, em entrevista ao G1, “em ambos os casos, o etanol é a mesma molécula, mas o que muda é o grau de pureza, os aditivos e o controle sanitário”. Ela ressalta que “o combustível é feito para motores, pode conter impurezas e substâncias tóxicas, e segue normas da área de combustíveis, não de alimentos”.
O etanol das bebidas é resultado de um processo natural de fermentação, no qual leveduras transformam açúcares em álcool. Esse produto passa por destilação e purificação rigorosas, fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), para eliminar toxinas e se tornar seguro para ingestão.
Já o etanol combustível, embora também derive da cana-de-açúcar, passa por um refino menos rigoroso, focado em eficiência energética. Para coibir seu consumo humano, a indústria adiciona substâncias desnaturantes. “Adiciona-se uma pequena quantidade de compostos como metanol, corantes e detergentes, que não afetam o funcionamento do motor, mas tornam o produto tóxico para o corpo humano”, explicou Rodrigo Machado Martins, professor de Química do Curso Anglo, em entrevista ao G1.
O metanol é particularmente perigoso. No organismo, ele se transforma em formaldeído e ácido fórmico, compostos que podem causar acidose metabólica, danos neurológicos, cegueira irreversível, coma e até a morte. Paradoxalmente, o etanol puro é usado em hospitais para tratar intoxicação por metanol, pois compete pela mesma enzima no fígado, retardando a formação das toxinas. No entanto, Indianara Brandão alerta: “De forma alguma isso deve ser feito fora do ambiente médico”. O tratamento mais seguro atualmente envolve o medicamento fomepizol e hemodiálise.
Leia mais notícias por aqui: Estudo mostra que medicamentos Ozempic, Wegovy e Mounjaro reduzem efeitos e desejo por álcool
