Reportagem colaborativa escrita por: Maria Antônia Perdigão
Na internet, além do deboche, o caso de Pedro Deivison Santos de Assis, 22 anos, o jovem negro que, em surto psicótico, tentou fugir de uma abordagem policial na última terça-feira (10) em Brasília (DF) gerou comentários diversos. Alguns claramente racistas como “é um homem macaco ou homem aranha” e outros irônicos “os policiais vacilaram, deveriam ter entregado livros pra ele, assim ele ia ser mais educado”. Muitos internautas questionaram o fato da polícia militar não ter contido Pedro a tiros. “Policiais frouxos, quando tem que agir, ficam nisso aí”, escreveram.
Especialista em estudos raciais, Cássio Santana, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (UFBA), considera o fato de pessoas pedirem a policiais que atirem em um jovem negro como alarmante e ao mesmo tempo esclarecedor sobre como o racismo opera na sociedade.
“Se fosse uma pessoa branca, as pessoas agiriam da mesma forma, iriam querer que os policiais atirassem? Certamente, não. Os discursos sociais produzidos diariamente chancelam a violência física e simbólica contra pessoas negras, lhes tirando a marca de seres humanos. Não há possibilidade afeto para os corpos negros”.Cassio Santana, pesquisador da UFBA
Para o pesquisador, a sociedade cria um ambiente efetivamente negativo, para que discursos como esses, nos comentários a respeito do caso de Pedro, sejam tidos como normais: “Os discursos de instituições, como os meios de comunicação, particularmente, em editorias policiais, também incitam e legitimam a violência contra a população negra. Esses discursos irão criar uma ambiência de afetação negativa para negras e negros, desumanizando-os. E isso tem consequências reais, como o extermínio da população negra. Qual relação há entre esses discursos e a violência policial? Se não há uma relação de casualidade, certamente há de complementaridade”, finaliza Santana.