Mariana Jasper afirmou que aceitou o trabalho após garantia de liberdade total.
Passados cinco dias desde o anúncio de demissão de todos os roteiristas negros da série que a Globoplay está produzindo sobre a ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, a Globo escalou duas profissionais para comandar a direção criativa do projeto: Mariana Jasper, negra, e Maria Camargo, branca. A direção é de José Padilha.
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A série vem sendo alvo de críticas desde o início do trabalho, uma vez que todos os cargos de diretoria são ocupados por pessoas brancas que têm a missão de construir a narrativa de uma mulher preta e favelada. No último sábado (24), quatro roteiristas negros se demitiram por “divergências na condução da narrativa sobre a vida da vereadora”.
Mariana Jasper emitiu uma carta aberta. Confira:
Sobre minha autoria na série sobre Marielle Franco ao lado de Maria Camargo. Fiz parte da sala anterior e meu retorno se deu unicamente por ser junto com Maria – minha mentora, pessoa por quem tenho imenso respeito, amor e, principalmente, por termos uma relação de muita confiança mútua.
Mas, para além do afeto, é preciso ser pragmática: aceitei o desafio porque nos foi garantida total liberdade de criação e condições reais de autoralidade. Chego para ocupar de fato um lugar de liderança criativa – tão fundamental em um projeto como esse.
Conversamos também com a Antifa [produtora da série] e o Globoplay e combinamos um processo de troca com muito debate e respeito no relacionamento. Acredito que mais importante que poder dizer sim, é poder dizer não e diremos tantos quanto forem necessários para contar a história de Marielle e Anderson – não escreveremos sobre o que não acreditamos. Meu posicionamento em todas as instâncias é de que não estou aqui para cumprir um papel figurativo – Token só o da senha do banco.
O que eu e Maria nos dispomos a fazer é colocar a mão na massa, confrontar a folha em branco – que é nosso ofício – e trabalhar duro para escrever uma história que não seja apenas poderosa, mas também esteja a serviço do legado de Marielle.
Sua morte é uma ferida ainda aberta e, uma vez que a série irá acontecer, é preciso que o recorte sobre sua vida faça jus a quem ela foi e seguirá sendo. Sei que não será um trabalho simples, mas qual processo criativo é? Desejo muito e coloco toda minha força, intuição, técnica e disposição para que Dona Marinete, Seu Antônio, Luyara, Anielle, Monica e Agatha se sintam respeitadas. E, por se tratar de uma obra de ficção, que uma senhorinha lá no interior da Bahia assista e diga: “Eita, que série massa!”.