Por Dandara Maria Barbosa
”Não pode abrir o Jalapão. Me ouça nesse momento! Eu estou pedindo com humildade. O Jalapão só é bom com a saúde, com a paz e a alegria. Não podemos receber o turista contrariado e triste com essa pandemia. Dono de agências, turistas do Brasil, vamos ter cautela?”. O apelo é de Noemia Ribeiro da Silva, uma das matriarcas do quilombo Mumbuca no Jalapão-TO, preocupada com a segurança da população quilombola devido à pandemia do novo coronavírus.
Nesta quarta-feira (8), a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins (Coeqto) divulgou uma nota de repúdio contra a possível reabertura das atividades turísticas do Parque Estadual do Jalapão. A nota também pede a intervenção do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública.
A possível reabertura do Parque Nacional do Jalapão, um dos pontos turísticos mais visitados no Brasil, veio de um plano de um documento que pede abertura a partir de agosto. O pedido foi elaborado pela Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc) em parceria com as prefeitura de Mateiros, São Félix e Ponte Alta do Tocantins, todas na região do parque, para o Governo do Tocantins.
Diante disso, as lideranças e moradores da região estão preocupados devido o crescimento de casos da Covid-19 no estado, sobretudo nas comunidades quilombolas da região norte, que lidera o número de contaminações entre esses povos e não tem políticas públicas específicas de enfrentamento a pandemia.
Segundo a nota assinada também pelas associações das comunidades quilombolas do Jalapão e pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – a Conaq -, a Região do Jalapão também é território quilombola e as atividades turísticas colocam em risco a saúde da população local.
“A Urgência em abrir o comércio do turismo, em uma região onde a maioria os atrativos estão dentro de quilombos, é um atentado à vida dessas pessoas, haja vista a letalidade da COVID-19,” alerta em nota.
Ministério Público
A nota ressalta ainda a solicitação de intervenções do Ministério Público Federal e a Defensoria Pública que auxiliem na luta pela preservação da vida da população quilombola tocantinense. “Sobretudo, do Jalapão que além da ameaça da COVID-19, precisam resistir às iniciativas de gestores e empresários que tentam subsidiar seus fundos monetários às custas de vidas negras, tal qual o fizeram legalmente por 300 de escravidão,” enfatiza.
Números
De acordo com a Conaq, no Brasil já existem 2.590 quilombolas infectados e 127 mortes desde a notificação do primeiro óbito em 11 de abril. A região Norte tem mais de 1 mil quilombolas contaminados e o Tocantins registrou o primeiro óbito na última segunda-feira (6).