Um estudo do Fundo da Nações Unidas Para a Infância (UNICEF) e nomeado de “Análise de Dados: Homicídios de Crianças, Adolescentes e Jovens em Salvador”, observou que em 2023, dos 1.103 casos de homicídio que ocorreram na capital da Bahia, 467 casos envolveram vítimas de até 24 anos de idade e que desses, 90% eram negros. A pesquisa foi publicada em dezembro do ano passado.
Os dados vem de 3 fontes principais: o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM DATASUS), da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB); a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA); e o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM DATASUS) da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS).

“É preciso implementar politicas públicas que considerem os determinantes raciais na medidas de prevenção e proteção de meninas e meninos”, diz Helena Oliveira, chefe do escritório da UNICEF em Salvador. Pra ela também o estudo ressalta como o estudo comprova dimensões raciais que determinam a violência contra pessoas negras em salvador, incluindo crianças.
Dentro da pesquisa, também é revelado como o sexo masculino é mais favorável à violência letal. Na cidade de Salvador, 100% das crianças (considerando de 0 a 11 anos) mortas por homicídio eram meninos e um deles não chegou a completar nem o primeiro ano de vida. Desses, 66,7% eram pardos e os outros 33,3%, pretos.
Confira aqui o estudo na íntegra.
O estado da Bahia, durante um monitoramento da Rede de Observatórios da Segurança e denominado como Pele Alvo em 2023, foi eleito como o estado que mais mata pessoas negras em ações policiais. Foram constatadas mais de 1.000 vítimas da letalidade policial, sendo o único estado entre os outros monitorados (Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo) a ultrapassar a marca dessas mil. Em 2022 e 2023, o estado se manteve no topo do ranking.
“São números chocantes: 243 crianças e adolescentes entre 12 a 17 foram mortos em ações policias. Não são jovens mortos em guerra de facções. É a força do estado matando pessoas tão jovens. Não é possível que o país não tenha outra forma de tratar seus jovens, mesmo aqueles, envolvidos com a criminalidade, que não seja na bala, no tiro. Isso é uma vergonha para o Brasil: esse dado deveria chocar e fazer a gente parar tudo o que está fazendo para pensar como mudar isso”, diz Silvia Ramos, cientista social e coordenadora-geral da Rede de Observatórios de Segurança.
“É um viés racial muito radical, muito declarado, muito pouco sutil. O que nós vemos nesses números é um racismo extremamente enraizado nas forças de segurança. É um padrão muito repetitivo: ao longo dos anos, aumenta e diminui o número de mortos pela polícia mas, o que não se altera, como o eletrocardiograma de um morto, é essa diferença racial, entre brancos e negros. É como o Brasil tivesse escolhido esse caminho e não se importasse”, completa ela.
O Boletim Pele Alvo ainda ressalta que com um cenário tão desfavorável à juventude negra, movimentos sociais de favelas surgem como espaço de resistência e acolhimento para este público.
Leia também: Lucro com comida estragada: empresa que revendeu carne podre teve ganhos de mais de 6.000%, estima a polícia.