Na última terça-feira (07) as redes sociais foram invadidas pela notícia, veiculada pelo jornalista Leo Dias, de que Virgínia Fonseca, influenciadora digital teria “terminado” um romance com o jogador Vinícius Júnior, que aqui será tratado como Vini.
O que percebo em suas vidas é a cristalização de um fenômeno: muitas pessoas brancas, acostumadas a ocupar certa altivez no espaço público, se sentem transtornadas ou ofendidas diante de negativas ou afirmações vindas de pessoas negras. Negativas essas que projetam autonomia, dignidade ou independência.

Pelo menos do que acompanhei, o Vini hora nenhuma se colocou como namorado, concubino, amante ou coisa do tipo, muito pelo contrário, ele “se escondeu” dentro de casa várias vezes, como os memes que circularam por aí. Mas foi só aparecerem algumas mensagens do Vini com outra mulher que a Virgínia foi logo dando um jeito de roubar o protagonismo da história, como é inerente à branquitude, e dizer que eles não têm mais nada.
A branquitude não suporta quando uma pessoa negra quebra um script: o roteiro tácito de que pessoas negras deveriam ser dóceis, gratas, submissas. A reação de certos setores revela uma incapacidade de tolerar essa dissonância. A negativa de uma pessoa negra, seja com um “não”, um contraponto, ou uma divergência, é recebida quase como traição a uma ordem que nunca foi escolhida por quem a sofreu.
Essa reação não é aleatória. Está enraizada numa longa história de privilégio e dominação, de pessoas brancas que se habituaram a conduzir narrativas, definir padrões estéticos, morais, políticos. Até pouco tempo, muitos espaços de visibilidade eram estritamente “brancos”. E ainda assim, quando pessoas negras começaram a penetrar esses espaços, mostrando talento, beleza, inteligência, começaram a reivindicar não só participação, mas protagonismo, logo surgem os que se sentem incomodados com o espelhamento.
Porque o protagonismo negro é, em essência, uma negação silenciosa de uma narrativa branca hegemônica: “vocês só entram se obedecerem, se aceitarem”. E quando essa dinâmica é posta à prova, quando pessoas negras dizem “não”, “eu sou assim”, “não vou me curvar”, há um choque para quem sempre se julgou dono do palco.
Isso explica parte das críticas que recaem sobre eles, não sobre o que fazem, exatamente, mas porque fazem de modo a não corresponder à expectativa de subserviência. Virgínia Fonseca, por exemplo, representa uma mulher jovem, bonita, poderosa, com voz e atitude. Vinícius Júnior carrega uma carga histórica nas suas conquistas esportivas e de representação.
Os ataques, o rancor, a exigência de se explicar, de pedir perdão, muitas vezes não se justificam pelo conteúdo real, mas pelo medo visceral de ver pessoas negras ocupando não só lugar, mas poder simbólico.
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Em paralelo, surgem movimentos culturais e sociais que apontam: negros merecem protagonismo, participação, não permissão. Aqueles lugares que antes aceitavam apenas vozes brancas agora são ocupados por quem antes era excluído. E essa ocupação não é decorativa: exige respeito. E gera ruído.
É essa a raiz de uma tensão silenciosa que vai além de rir de um meme, ou sobre um “escândalo” midiático, é sobre poder. Quando pessoas brancas se acostumaram a dominar a narrativa, qualquer resistência da pessoa negra é percebida como usurpação.
Virginia Fonseca, Vinícius Júnior: seus acertos e erros importam. Mas importam ainda mais como exemplos vivos de que o protagonismo negro incomoda, e incomoda porque é urgente. E é chegada a hora de confrontar essa posição com respeito, com firmeza, com a consciência de que protagonismo não é privilégio: é justiça.









