Como a educação antirracista combate a intolerância religiosa

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a jornalista Thais Bernardes leu o livro 'Exu e o Mentiroso' para seu filho - Foto: Arquivo pessoal

Sou mãe de um menino negro de cinco anos e, no último final de semana, comprei o livro infantil ‘Exu e o Mentiroso‘, da Editora Pallas, para lermos juntos. Enquanto desvendávamos as páginas, meu filho me encheu de perguntas sobre os Orixás, especialmente sobre Exu. Foi um momento de troca profunda, em que pude explicar sobre este Orixá e desmistificar muitos conceitos errados que, infelizmente, fazem parte do imaginário de boa parte da nossa sociedade. Conversamos sobre ancestralidade e cultura afro-brasileira de maneira lúdica e significativa. Nesse momento, pensei como seria transformador se histórias como essas fossem inseridas no cotidiano escolar. Ajudariam não apenas a combater a intolerância religiosa, mas também a promover respeito e empatia.

A intolerância religiosa no Brasil, muitas vezes direcionada às religiões de matriz africana, é fruto de um processo histórico de demonização e apagamento cultural. Esse preconceito tem raízes em uma política educacional que ignorou e desrespeitou culturas que são a base da formação do nosso país. Essa lacuna pode ser preenchida com a educação antirracista, que não só valoriza as contribuições das culturas africanas, mas também as apresenta às crianças como elementos essenciais da identidade brasileira.

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A jornalista Thais Bernardes leu o livro ‘Exu e o Mentiroso’ para seu filho – Foto: Arquivo pessoal

A Importância dos livros infantis na educação antirracista

Histórias como as de ‘Exu e o Mentiroso‘ não apenas divertem, mas também educam. Ao introduzir temas como Orixás e ancestralidade afro-brasileira de maneira acessível, esses livros ajudam a desconstruir preconceitos e a construir uma sociedade mais respeitosa e diversa. Outros títulos igualmente relevantes incluem:

  • Omo-Oba: Histórias de Princesas (Editora Mazza), que apresenta histórias inspiradas nas princesas da mitologia iorubá;
  • Meu Crespo é de Rainha (Editora Companhia das Letrinhas), que valoriza a identidade e a beleza das crianças negras;
  • Histórias da Preta (Editora Círculo de Cultura), que explora a ancestralidade afro-brasileira através de contos e memórias.

Esses livros são ferramentas pedagógicas potentes para abordar temas complexos como racismo religioso de forma sensível e envolvente.

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Dados que refletem a realidade

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Data Popular em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA) revelou que cerca de 71% da população brasileira não conhece a história dos Orixás e das religiões de matriz africana. Esse desconhecimento é uma porta aberta para o preconceito. Já o relatório de 2023 da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial destacou que mais de 60% das denúncias de intolerância religiosa no Brasil são relacionadas às religiões de matriz africana. Esses números evidenciam a urgência de uma educação que promova o respeito à diversidade religiosa.

Educação como Ferramenta de Combate ao Racismo Religioso

Ao longo da história, a demonização das religiões de matriz africana foi usada como instrumento de opressão. Para reverter esse quadro, é fundamental incorporar nos currículos escolares o ensino da história e da cultura afro-brasileira, conforme preconiza a Lei 10.639/03. Contudo, a aplicação dessa legislação ainda é falha em muitas escolas.

A educação antirracista não é apenas uma necessidade política, mas também uma exigência ética. Ao ensinar sobre religiões de matriz africana de forma lúdica e respeitosa, como fiz ao explicar para o meu filho sobre Exu, ajudamos a formar indivíduos mais tolerantes e conscientes.

Educar é um ato revolucionário. Ao compartilhar histórias como a de ‘Exu e o Mentiroso‘ e tantos outros livros que celebram a cultura afro-brasileira, damos um passo em direção a uma sociedade que valoriza suas raízes e respeita a diversidade. Como jornalista, mãe e defensora dos Direitos Humanos, acredito que a educação antirracista é a ponte para um futuro mais igualitário, onde nossas crianças aprendam desde cedo a valorizar a rica herança cultural que as molda.

Assim, seguimos plantando as sementes para um mundo onde a intolerância religiosa não encontre espaço para florescer.


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