A edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano contará com o menor número de inscritos pretos, pardos e indígenas dos últimos dez anos, segundo o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). Além disso, o Enem 2021 contará também com o menor número de candidatos com isenção de taxa de inscrição. É um corte histórico e expressivo num processo contínuo de inclusão de estudantes negros e mais pobres que tinham no Enem a principal oportunidade de acesso ao ensino superior.
A edição 2021 do Enem recebeu o menor número de inscrições dos últimos 14 anos. Já chegou ao patamar de 8,7 milhões de inscritos, mas, em 2021, foram 3,1 milhões. A queda no número de inscrições se deve à decisão do governo Bolsonaro de retirar a isenção da taxa dos que faltaram na edição do Enem 2020. No entanto, neste mesmo período de 2020, a pandemia estava em um de seus momentos mais agudos e havia um medo justificável de se contaminar e contaminar os familiares.
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Foi o caso da diarista Ilma Brito, 36, que foi fazer a prova, mas encontrou a sala superlotada. “Eu queria tentar porque é meu sonho entrar em uma universidade, mas fiquei com medo. As salas estavam tumultuadas, cheias de gente. Eu só pensava que não podia correr o risco de levar Covid pra dentro da minha casa, meu filho tem bronquite”, conta Ilma em entrevista à Folha de São Paulo.
Inscrições pretas
Em 2016, em números absolutos, o Enem chegou a ter mais de 1,1 milhão de inscritos pretos; este ano, contudo, foram 362 mil inscritos. O levantamento do Semesp mostra que 11,7% dos inscritos para o Enem 2021 são pretos. É a menor proporção desde 2009, quando eles representaram 6,3% dos inscritos. Os pardos somam 42,2% dos participantes inscritos para a próxima edição do Enem. São cerca de 1,3 milhão de alunos pardos neste ano, um grupo que chegou a ultrapassar 4 milhões de inscritos – mais do que o total de registros para a prova deste ano.
Já o número de inscritos com isenção da taxa por declaração de carência caiu 77%, em relação à última prova. Ao todo, 26,5% das pessoas inscritas no Enem 2021 conseguiram a inscrição gratuita. Essas pessoas têm direito à isenção porque cursaram o ensino médio em escola pública e têm renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo ou estão inscritos no CadÚnico. Na edição anterior, esse grupo representava 63% de todos os inscritos.
Diversas entidades estudantis e especialistas alertavam para a exclusão dos estudantes mais pobres desde junho, quando o edital do Enem 2021 foi publicado. Dentre as ações, está o pedido para que o Supremo Tribunal Federal (STF) reabra as inscrições do Enem com isenção aos ausentes. “O Ministério sabia que manter essa regra iria resultar na exclusão dos mais pobres e, ainda assim, decidiu mantê-la. Por isso, esperamos que a justiça possa intervir e reverter essa situação cruel”, diz Frei David, presidente da Educafro.
Ainda segundo ele, excluir alunos pobres e negros faz parte de um projeto político do governo Bolsonaro de que esta população não tenha acesso ao ensino superior. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirma que a pasta não pode arcar com os custos da prova de quem faltou anteriormente. Por outro lado, Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, fala de um retrocesso histórico no Enem já que “a participação dos estudantes historicamente mais excluídos vinha aumentando ano a ano, ainda que em um ritmo aquém do necessário (…)”, conclui.
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