Conforme o relatório divulgado nesta terça-feira (10), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a taxa de analfabetismo de meninas e meninos negros de 7 a 10 anos, em 2022, chegou a 21,8%. Já a de crianças brancas, no mesmo período e da mesma faixa etária, é de 15,1%. A análise foi feita com base em dados de 2016 a 2022.
A partir deles, a diferença da taxa de analfabetismo entre os dois grupos, era de 6,7 pontos percentuais em 2022. Em 2019, essa diferença era de 4,3 pontos. Durante o período, aconteceu a pandemia da Covid-19, que de acordo com o relatório, piorou a situação do analfabetismo no país. Em crianças de 7 a 9 anos, o número dobrou entre 2019 e 2022.
Segundo o estudo, o retrocesso deste período acontece após um aumento sutil no acesso à alfabetização, registrado de 2016 a 2019. No relatório, a Unicef afirma que os dados mostram a “urgência de políticas públicas coordenadas em nível nacional, estadual e municipal para reverter esse quadro“.
“As desigualdades raciais no Brasil são persistentes. Agora, estamos vendo isso nas crianças e em muitas formas de privação de direitos“, disse Santiago Varella, especialista em Políticas Sociais do Unicef no Brasil.
O aumento do analfabetismo foi maior entre as crianças de sete anos, passando de 20% em 2019 para 40% em 2022. Os mais atingidos foram crianças de 8 anos, faixa etária em que o analfabetismo mais que dobrou, de 8,5% para 20,8% no mesmo período. Entre o grupo de 9 anos, a taxa aumentou de 4,4%, em 2019, para 9,5%, em 2022.
Segundo Santiago Varella, a situação é crítica. “A gente vive um momento muito crítico em relação ao analfabetismo, vendo o salto que o indicador deu. Há um passivo, de certo modo histórico, relacionado à qualidade da educação no Brasil. É importante que se entenda e que se tenha um esforço concentrado para que esse passivo da pandemia não se prolongue mais tempo“.
A Unicef analisou o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos. Além da educação, o relatório também destacou dados sobre renda, informação, água, saneamento e moradia, além de considerar também a dimensão alimentar.
A privação mais crítica no Brasil em 2022 é a de saneamento básico atingindo mais de um terço (36,98%) dos brasileiros de 0 a 17 anos. A privação também é maior entre negros do que brancos: 68,8% ante 48,2%.
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