O Quilombo Baía Formosa está localizado na cidade de Armação de Búzios(RJ) na divisa com Cabo Frio. A Baía Formosa é uma região que historicamente compreendeu o trecho entre a praia do Peró (Cabo Frio) até a cidade de Rio das Ostras. Foi ali, por volta do século XVII, que o povo escravizado chegou de África de forma ilegal – conforme aponta Joilton dos Santos Mendes em seu livro Turismo Étnico. Por causa da relevância do Prêmio Gastronomia Preta, alguns convites surgem e são imperdíveis: como este de participar da celebração de uma formatura de um curso em Gastronomia no Quilombo Baía Formosa.
O convite para esta cerimônia partiu do chef Regi – o idealizador do projeto de formação que contou com 240 horas de curso entre os meses de Dezembro de 2022 e Maio de 2023. E claro, eu não poderia perder aquela celebração de jeito nenhum. E ainda dei sorte de ter agenda disponível naquela data. Peguei o carro depois de dar aula no programa de Pós Graduação em Comunicação na UERJ e #partiubuzios.
O curso de capacitação em Gastronomia idealizado pelo chef Regi com apoio da empresa Shell e da Rede Mobiliza por meio de um edital público, formou 10 quilombolas de Baía Formosa e serve para pôr em prática a ideia que defendo: a Economia Pretagonista. O Quilombo Baía Formosa oferece serviços de turismo étnico ecológico; e a formação em gastronomia (financiada pelo setor privado) contribuiu para potencializar a Cozinha Quilombola – nome do coletivo com viés de promoção de renda daquele grupo por meio da culinária ancestral.
Cozinha Quilombola, o Turismo Étnico Ecológico e Economia Pretagonista
Quando apresentei o conceito de Economia Pretagonista me preocupei com a importância em evidenciar pessoas pretas e pardas nas mídias por meio da dinamização da economia (nós pretos e pretas comprando e evidenciando nossos pretos e pretas nos seus ramos de atuação). E, conhecer a Cozinha Quilombola me fez compreender quão relevante é continuarmos a consumir do nosso povo como uma estratégia de potencializar iniciativas nos mais diferentes segmentos. Identificar essas lideranças e potencializá-las é extremamente necessário.
Beth para mim é essa liderança que precisa ser conhecida em função do seu empoderamento como mulher preta quilombola. É uma matriarca quilombola que tem afeto, acolhimento e objetivos definidos na valorização do povo quilombola naquela região. Como recém formada no curso profissional em Gastronomia, Beth preparou para mim um peixe cozido na folha de bananeira e um purê de batata com leite de coco e um arroz cremoso (também com leite de coco). Um banquete regado a querer bem, abraços e ancestralidade. Olhem como eu fico todo derretido ao lado dela.
O Turismo Étnico Ecológico no Quilombo Baía Formosa é uma das ações de geração de renda para o grupo por meio dos seus saberes ancestrais e de suas histórias na região. Como afirma Beth, “(…) é um turismo de base comunitária com 7 circuitos que incluem passagens pela Praia da Armação, Casa do Sino, Igreja Santana e a Ponta da Lagoinha – local em que África se deslocou do nosso Brasil.” E, adicionalmente, existem também outros circuitos que contemplam trilhas (para quem gosta mesmo da natureza) e contato direto com a vegetação.
Quem visita o Quilombo Baía Formosa e a Cozinha Quilombola pode escolher em ter seu almoço servido no quintal ou na própria cozinha perto do fogão à lenha. Como comensal quero fazer um apontamento relevante: você que tem interesse em conhecer a Cozinha Quilombola deve compreender que não é uma proposta de alta gastronomia. É uma proposta de reencontro com a nossa ancestralidade por meio dos cheiros, aromas, sabores, saberes e resgates. É sobre nostalgia de alguma forma – mesmo que a gente não tenha estado ali antes. Eu senti o cheiro da cozinha da minha avó paterna por causa do fogão à lenha. Eu senti o gosto do café coado da minha avó. Eu me senti em casa de alguma forma.
Então, a dica é: se você quer ter contato com sua ancestralidade e fomentar a economia quilombola, conheça o Quilombo Baía Formosa em Armação de Búzios (RJ). Talvez você nem soubesse que tão perto dos grandes centros tivesse um quilombo com proposta também gastronômica. Vá, se divirta e nos conte!
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