O Nutricídio e a População Preta

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Por Dr. Saulo Gonçalves – Nutricionista Clinico

O termo “Nutricídio”, elaborado e cunhado pelo médico americano Llaila Afrika, trouxe diversas contribuições relevantes para pensarmos sobre a alimentação da população negra de todo o mundo. No Brasil que volta a enfrentar a fome diante de um cenário de inflação de alimentos que pressiona os mais pobres a comerem menos e pior, o genocídio via alimentação de uma parte da população é uma triste realidade. O nutricídio se refere à dificuldade ou falta de acesso a alimentos saudáveis e que deveriam fazer parte da cultura alimentar, incluindo as consequências que isso traz à saúde.

O termo é complementado por um recorte de raça – pessoas negras são as mais afetadas devido a uma série de fatores. Um dos pontos levantados pelo autor é a cultura imposta pelos colonizadores dos países africanos, o que afetou, inclusive, a alimentação desses povos, afastando-os de sua cultura alimentar. No Brasil isso não foi diferente!

Dentre essas mudanças podemos citar o amplo uso de farinha, sal e açúcar na alimentação, outro ponto relevante é o fato de pessoas negras terem um maior acesso a alimentos de baixo valor nutricional, como os ultraprocessados, em detrimento daqueles in natura e minimamente processados, como frutas, legumes e verduras. O consumo elevado de ultraprocessados, por exemplo, tem sido associado à obesidade e diversas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e câncer, impactando diretamente a qualidade de vida e o número de anos vividos – daí o termo nutricídio!

Dr. Saulo Gonçalves fala sobre os perigos do nutricídio, e a população afetada /Foto: Divulgação

Na contemporaneidade, a população negra, dentro e fora do continente Africano, sofre historicamente de males físicos, mentais e espirituais, em decorrência da má alimentação imposta pela colonização europeia e pelo sistema alimentar branco, traduzido por um genocídio alimentar da população negra trabalhadora marginalizada, caracterizado pela insegurança alimentar e pela fome, o que podemos chamar de nutricídio. De acordo com Nádia Alinne Corrêa e Hilton P. Silva (2021), são os descendentes da população escravizada que são os que mais sofrem insegurança alimentar e nutricional.

Tal realidade, que não se trata de uma mera coincidência, se dá por reflexos de fatores culturais, econômicos e sociais da população negra, de origens coloniais.

Referências:

FROZI, Daniela Sanches. Multidimensionalidade da pobreza em comunidades quilombolas: aspectos analíticos para a segurança alimentar e nutricional. In: PINTO, A. R. et al. Quilombos do Brasil: segurança alimentar e nutricional em territórios titulados. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2014. p. 69-91.

GALINDO, Eryka; TEIXEIRA, Marco Antonio, ARAÚJO, Melissa de; MOTTA, Renata; PESSOA, Milene; MENDES, Larissa Mendes, RENNÓ, Lúcio. Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil. Food for Justice Working Paper Series, no. 4. Berlin: Food for Justice: Power, Politics, and Food Inequalities in a Bioeconomy, 2021. Disponível em: <https: //refubium.fu-berlin.de/handle/fub188/29813>.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

BRITO, Thaís Cecília dos Santos, et al. Territórios Saudáveis e Sustentáveis: estratégias de cuidado para a saúde da população negra do campo em Caruaru/Pernambuco. Saúde debate 45 (131) 08 Dez 2021 Oct-Dec 2021

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